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UEFS 2016.1 - INTERPRETAÇÃO DE TEXTO

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Mensagem por Anna Clara O. Seg 06 Fev 2017, 20:09

AVISO: GRANDE QUESTÃO

Um leitor de La Repubblica perguntou o que podemos fazer para escapar da situação alarmante em que nos encontramos depois da crise do crédito e como evitar suas consequências possivelmente catastróficas. 5 Essas são perguntas que nos fazemos todos os dias; afinal, não foi só o sistema bancário e a bolsa de valores que sofreram duros e sucessivos golpes — nossa confiança nas estratégias de vida, nos modos de agir, nos padrões de sucesso e no ideal de felicidade que, 10 dia após dia, nos últimos anos, nos disseram que valia a pena seguir também foi abalada e perdeu parte considerável de sua autoridade e poder de atração. Nossos ídolos, versões líquido-modernas do bezerro de ouro bíblico, derreteram ao mesmo tempo que a confiança 15 na economia! Pensando em retrospecto, os anos anteriores à crise do crédito parecem ter sido tempos tranquilos e alegres do tipo “aproveite agora, pague depois”; uma época em que nós agíamos com a certeza de que haveria 20 riqueza suficiente e até maior no dia seguinte, anulando qualquer preocupação com o crescimento das dívidas de hoje, desde que fizéssemos o que se exigia para aderir aos “caras mais inteligentes da turma” e seguir seu exemplo. Naqueles dias que ficaram para trás, o 25 exercício de subir montanhas cada vez mais altas e ter acesso a paisagens cada vez mais arrebatadoras, eclipsar as grandiosas montanhas de ontem com o perfil das colinas de hoje e aplainar as colinas de ontem na gentil ondulação das planícies de hoje parecia durar para 30 sempre. Uma possível reação à crise econômica atual é o que Mark Furlong denominou de “militarização do eu”. É o que vão fazer, sem dúvida, os produtores e comerciantes interessados em capitalizar a catástrofe 35 transformando-a em lucro acionário, como de hábito. A indústria farmacêutica já está em plena atividade, tentando invadir, conquistar e colonizar a nova “terra virgem” da depressão pós-crise a fim de vender sua “nova geração” de smart drugs, começando por semear, cultivar 40 e fazer crescer as novas ilusões que tendem a propulsionar a demanda. Já estamos ouvindo falar de drogas fantásticas que prometem “melhorar tudo”, memória, humor, potência sexual e a energia de quem as ingere com regularidade, proporcionando assim total 45 controle sobre a construção do próprio ego e sua preponderância sobre o ego de outros. Contudo há outra possibilidade. Existe a opção de tentar chegar às raízes do problema atual e (como sugeriu Furlong) “fazer o contrário do que estamos 50 acostumados: inverter o padrão e organizar nosso pensamento não mais a partir daquele em que o ‘indivíduo’ está no centro, mas segundo uma ordem alternativa centrada em práticas éticas e estéticas que privilegiem a relação e o contexto”. 55 Trata-se, sem dúvida, de uma possibilidade remota (inverossímil ou pretensiosa, diriam alguns), que exige um período prolongado, tortuoso e muitas vezes doloroso de autocrítica e reajuste. Nascemos e crescemos numa sociedade completamente “individualizada”, na qual a 60 autonomia, a autossuficiência e o egocentrismo do indivíduo eram axiomas que não exigiam provas (nem as admitiam), e que dava pouco espaço, se é que dava, à discussão. Só que mudar nossa visão de mundo e assumir uma compreensão adequada do lugar e do papel 65 que temos na sociedade não é fácil nem se faz de um dia para o outro. No entanto, essa mudança parece ser imperativa, na verdade, inevitável. BAUMAN, Zygmunt. Como escapar da crise? In: 44 Cartas do Mundo Líquido Moderno. Tradução Vera Pereira. Rio de Janeiro: Zahar, 2011. p. 161-165. Tradução de: 44 Letters from the Liquid Modern World. Adaptado.

A interpretação dos aspectos temáticos do texto de Zygmunt Bauman está correta em 
A) A crise financeira que se estabeleceu na contemporaneidade é o resultado de uma depressão social causado por referenciais de uma cultura individualista e hedonista. 
B) Os problemas que consomem o homem contemporâneo surgiram como consequência de um passado voltado para a desconfiança no próprio homem e a sua incapacidade de cooperação mútua. 
C) As incertezas relacionadas com a economia atual vêm atreladas ao desmoronamento de valores que alimentam um modo de viver e ver o mundo pautado na conquista da felicidade a qualquer custo, no presente. 
D) A solução mais adequada e eficaz para os problemas que são vivenciados pelos indivíduos atualmente é a cura da depressão pós-crise, por meio de medicamentos de última geração que garantem a qualidade de vida das pessoas. 
E) A ideologia pregada pela sociedade líquido-moderna é incompatível com a proposta de intervenção do enunciador, o que torna impossível a resolução da crise econômica e existencial por meio de atitudes de autocrítica e reajuste da maneira de pensar e agir.

RESPOSTA CORRETA: C

Poderiam explicar porque a C está correta e a B errada? Obrigada

Anna Clara O.
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Mensagem por IsaacTERA Qui 16 Fev 2017, 14:25

Minha análise das alternativas:

A) A crise financeira não é resultado da depressão social. Pelo texto, é justamente o inverso. A depressão social é resultado da crise financeira.

B) O que torna essa alternativa incorreta é a parte que diz "a desconfiança no próprio homem". Se esse trecho fosse retirado, ela estaria correta. O que o texto nos permite entender é que a crise é justamente causada por uma confiança exacerbada em si próprio, um individualismo enorme. Veja que o indivíduo, segundo o texto, confiava que tudo iria dar certo antes da ocorrência da crise, o que é evidenciado nesse trecho: "uma época em que nós agíamos com a certeza de que haveria riqueza suficiente e até maior no dia seguinte, anulando qualquer preocupação com o crescimento das dívidas de hoje". Além da confiança no próprio estilo de vida, o autor demonstra que o pensamento anterior a crise colocava o próprio indivíduo no centro, evidenciado a confiança que ele tem em si próprio, conforme esse trecho: "fazer o contrário do que estamos acostumados: inverter o padrão e organizar nosso pensamento não mais a partir daquele em que o ‘indivíduo’ está no centro".

C) Essa alternativa é correta e ressaltada logo no início do texto. A crise não apenas desmoronou a economia, mas também colocou em xeque os valores do indivíduo. Veja esse trecho: "não foi só o sistema bancário e a bolsa de valores que sofreram duros e sucessivos golpes — nossa confiança nas estratégias de vida, nos modos de agir, nos padrões de sucesso e no ideal de felicidade que, dia após dia, nos últimos anos, nos disseram que valia a pena seguir também foi abalada". Esses valores eram pautados na conquista da felicidade a qualquer custo, no presente, conforme esse trecho: "Pensando em retrospecto, os anos anteriores à crise do crédito parecem ter sido tempos tranquilos e alegres do tipo “aproveite agora, pague depois”. Ou seja, o indivíduo buscava a felicidade momentânea, sem se preocupar com o "pagamento" que teria de fazer no futuro. Quando a crise chega, os valores se abalam juntamente com a economia.

D) A solução adequada, pelo texto, é seguir "uma ordem alternativa centrada em práticas éticas e estéticas que privilegiem a relação e o contexto". A tentativa de capitalização em cima da depressão pós-crise não é tratada como solução, mas criticada pelo autor.

E) Essa poderia confundir, mas o autor deixa claro que a resolução da crise econômica por meio de atitudes de autocrítica e reajuste da maneira de pensar e agir é difícil e exige um longo período, mas não impossível. Se assim o fosse, a solução do autor seria inútil.

IsaacTERA
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