[Redação ENEM] Alguém pode corrigir esta redação?

"Segundo dados estatísticos do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -, (vírgula indicativa de ordem indireta) as taxas de mortalidade infantil no Brasil diminuíram ao longo das últimas décadas. Contudo, outro índice preocupante envolvendo a saúde na infância alerta o país: o número de crianças obesas em território tupiniquim (SIC) está cada vez maior. Nesse contexto, é imprescindível discutir acerca das possíveis causas dessa problemática, que são (incoerência lógica: primeiro você afirmou que são "causas possíveis", e depois retomou que "são", de fato, as causas. Seria interessante reescrever para algo mais sugestivo, como "especialistas indicam" - ou unir as duas orações em uma só, ou seja "possíveis causas para essa problemática são") a publicidade infantil e a desinformação entre as famílias, além de propor intervenções capazes de minimizar seus efeitos sobre a sociedade. 

Primeiramente, é importante (1) destacar a responsabilidade (ficou um pouco estranho conferir "responsabilidade" a um termo abstrato, no caso, "publicidade". Sugiro trocar para "impactos da publicidade" ou "responsabilidade das agências de publicidade") que a publicidade infantil tem (registro de informalidade sobre "tem"; você poderia substitui-lo por um sinônimo ou simplesmente reescrever para "destacar a responsabilidade das agências de publicidade infantil sobre essa realidade", o que retira o "que" e evita o "queísmo") sobre essa realidade. (Falta de coesão; "Nesse contexto", "Quanto a esse aspecto") Ainda são bastante comuns anúncios publicitários de alimentos com baixo teor nutricional (o baixo teor nutricional é a causa da obesidade infantil, ou os alimentos ricos em lipídios? fica a dúvida. Pense que quem vai corrigir sua redação é um professor formado em Letras, então não venha com raciocínios muito elaborados. Caso contrário, explique-os) voltados ao público infantojuvenil.

Essa próxima parte do parágrafo está completamente desconexa da ideia central, de que a publicidade infantil influencia nos maus hábitos alimentares das crianças: 

Schopenhauer defendia que o homem ("Homem", com sentido de ser humano, tem a inicial maiúscula) toma como limites(2) do mundo os limites(2) do próprio campo de visão (falta de coesão; unir a frase com a próxima). Nesse sentido, as crianças não escapam (registro de informalidade, não?) à conclusão do filósofo, pois, na maioria das vezes, tendem a acreditar que tais propagandas - sempre (generalização) bem chamativas - são sinônimos de comida saudável, já que elas ainda não têm o (dispõem do) discernimento necessário para tomar decisões complexas (eu achei essa parte bem generalizante; nesse caso, seria interessante adicionar uma expressão como "em geral", "frequentemente", "a maioria".), como a construção (sem precisão verbal) de uma dieta (saudável). Depreende-se, portanto, o desserviço que a publicidade infantil faz (da publicidade infantil) à saúde das crianças. (Outra coisa: "construir" uma dieta compreende "decidir" algo?)

Seria interessante reescrever para: 
"A princípio, importa destacar a responsabilidade das agências de publicidade infantil sobre essa realidade. Quanto a esse aspecto, vale assinalar a recorrência de anúncios publicitários de alimentos com baixo teor nutricional e alto índice lipídico voltados ao público infantojuvenil nos meios midiáticos, inclusive, muitas vezes, utilizando-se de estratégias de manipulação desonestas com o intuito de atrair as crianças. Nesse sentido, diversas empresas alimentícias apropriam-se do pensamento de Schopenhauer, segundo o qual o ser humano, inclusive quando em idade pueril, limita seu conhecimento de mundo ao próprio campo de visão, de tal modo a se aproveitarem da incapacidade da maioria das crianças de analisar criticamente o conteúdo das propagandas e de elaborar um plano de dieta saudável. Depreende-se, portanto, o desserviço da publicidade infantil à saúde dos indivíduos dessa faixa etária."

Em segundo lugar, e não menos importante (1)  (repetição de palavras em posições semelhantes) (evite expressões prontas. Isso empobrece muito o texto), está (vale citar, mencionar) o desconhecimento de muitas famílias brasileiras com (em relação a)o fato de que as crianças precisam seguir dietas que reflitam as (adequadas às) necessidadas nutricionais delas (queísmo). Na hora da refeição, todos (generalização de novo...) costumam comer o mesmo tipo de alimento e, por conseguinte, a falta de educação alimentar dos pais é transferida para os filhos. (Destarte,) Novamente, a visão shopenhaueriana sobre as relações do indivíduo com o mundo que o cerca é aplicável, pois a criança cresce acreditando que todos os alimentos que seus parentes consomem são saudáveis, mesmo que algum não seja. 

Diante dessa problemática, nitidifica-se a necessidade de intervir. Cabe ao Governo Federal proibir que empresas do ramo alimentício criem(3) anúncios publicitários de alimentos não saudáveis voltados às crianças, por meio da criação(3) de leis, com o fito de diminuir a exposição dos menores àquilo que lhes sejam prejudiciais. Ademais, o Ministério da Saúde deve, por meio do já existente programa Saúde na Escola, divulgar às famílias de alunos a importância da criação (3) de bons hábitos alimentares em família, para que as crianças já cresçam tendo em mente o que lhes é saudável. Por meio de tais intervenções, espera-se a diminuição nas estatísticas de obesidade infantil no Brasil."

Proposta de intervenção ótima 



Em laranja, marquei palavras que eu julgo pertencerem a um vocabulário pobre. Sugiro substituí-las. Todavia, não repercutem em motivo para perder nota no padrão Enem. 

760
Competência 1: 120, devido à repetição de palavras, ao emprego de expressões informais e de expressões prontas e ao queísmo;

Competência 2: 200

Competência 3: 120, devido à falta de coesão. Lembre-se da minha regrinha: "uma frase puxa a outra". Ou seja, sempre que você for escrever a próxima frase, relacione-a diretamente à anterior.

Competência 4: 120, devido à presença de generalizações e de pensamentos de senso comum.

Competência 5: 200

benicl escreveu:Uau, obrigado pela correção, bem detalhada e rígida, mas é bom assim mesmo pois os corretores do ENEM são imprevisíveis. Só algumas dúvidas que eu queria sanar contigo, e até mesmo umas observações:

@Benicl, é relativamente difícil corrigir redação aqui no fórum, porque nós não temos a mínima ideia de quem está do outro lado da tela, muito menos de como a pessoa vai reagir. Gostaria de dizer, de antemão, que foi com muito carinho que corrigi sua redação, dito que foram muito conspícuas para mim sua insistência e sua força de vontade em aprender. Por esse motivo, fiz uma correção um pouco mais detalhada, embora pudesse ter feito uma análise genérica. 

Aliás, fiquei muito feliz com o seu retorno, já que sua atitude comprova minhas primeiras impressões. De fato, nunca devemos aceitar opiniões alheias sem antes pensar criticamente sobre elas. Por outro lado, peço um pouco de paciência da sua parte; afinal, nós aqui do fórum somos apenas pessoas aleatórias passeando pela internet. Cada um aqui teve sua própria trajetória de vida, de modo a acumular uma variedade de conhecimentos distintos. Além disso, nós não recebemos o treinamento dado aos corretores do Enem. Em decorrência disso tudo, é de se esperar que cada pessoa que, eventualmente, venha a corrigir uma redação neste fórum, a corrija de maneira distinta e, portanto, nem sempre condizente com a nota da prova, de fato. Diferentemente, no caso do Enem, já ouvi falar que o treinamento dado aos corretores é bem rígido, com alta taxa de eliminação. Então, fique tranquilo que sua nota vai ser calculada de maneira justa. 

1. Uma redação nota 1000 do ano passado utilizou o termo "tupiniquim" para se referir ao Brasil. E era uma redação bem machadiana. Quais outros termos que não sejam "território Nacional", "território brasileiro", "sociedade", eu posso usar?

Eu marquei o termo "tupiniquim" porque não estava condizente com o nível do vocabulário empregado no restante do texto. Muito provavelmente, a redação que citou esse termo estava com um vocabulário, como o você mesmo disse, "machadiano", então se encaixava bem no texto em questão. Como eu também deixei explícito no final do meu comentário, trata-se apenas de estilística; um corretor não tiraria nota sua por conta disso. 

"Em laranja, marquei palavras que eu julgo pertencerem a um vocabulário pobre. Sugiro substituí-las. Todavia, não repercutem em motivo para perder nota no padrão Enem. "

2. Esse "preocupante": qual o motivo do grifo? Em outra redação nota 1000 uma professora de um cursinho que já foi corretora explicou que o candidato deve usar algum adjetivo ou termo, junto à tese, que exprima, mesmo de forma implícita, sua opinião pessoal.
Sim, você precisa utilizar articuladores argumentativos. Por outro lado, o fato de você ter percebido isso demonstra que já tem bastante conhecimento sobre o tema.
O motivo pelo qual marquei foi o fato de haver, ao longo do texto, uma mistura de termos característicos de um vocabulário, digamos, muito rebuscado (tupiniquim) com um vocabulário relativamente simples (preocupante). Novamente: é questão de estilística.

3. Como a parte do argumento da publicidade infantil está desconexa da tese se eu já havia citado que ela era uma das possíveis causas. E o termo "possível" já não exalta a incerteza? Olha, esse argumento estava mais complexo, só que não coube na folha de redação oficial que eu estava treinando.

*Eu não disse que está desconexa da tese. Disse que está desconexa da ideia central do parágrafo. Me perdoe se tiver ficado ambíguo. Teste a estratégia a que me referi, de que "uma frase puxa a outra". Veja se cada frase, sozinha, está diretamente relacionada à anterior (o que é fundamental para a coesão textual); verifique se funciona e me dê retorno. 

"Essa próxima parte do parágrafo está completamente desconexa da ideia central, de que a publicidade infantil influencia nos maus hábitos alimentares das crianças: "

*A primeira parte, de fato, expressa incerteza, por meio do emprego do termo "possível". O problema é que você retomou com um termo tangenciador, no caso, "que são".

4. Reconheço o queísmo, mas o vocabulário - exceto o "escapam", que foi um deslize grave meu que comprometeu toda a formalidade do texto" - não está tão pobre. A expressão que eu usei no início do segundo parágrafo não é pronta, na verdade eu queria evitar mais um "que". Uma redação nota 1000, ao defender a ideia de Schopenhauer, também fez a repetição da palavra "limites".

Repetições eventuais são válidas; repetições recorrentes, não. Houve mais repetições ao longo do texto.

5. Eu nem devia estar reclamando ou questionando uma correção voluntária - mas é que eu me preparo para o ENEM sozinho, frequento uma escola pública estadual e um cursinho popular - que não é forte igual a um cursinho que os "Nota 1000" e talvez você frequente/frequentou. Ou eu me preocupo em escrever com um vocabulário claro e inteligível ou eu me preocupo em escrever um texto machadiano - que está cada vez mais desincentivado pelos próprios professores corretores formados em Letras. Eu não quero nem tirar 1000 pois prezo pelo anonimato, uma redação acima de 800 já está ideal para mim. Desculpe se fui grosso, mas é que ano passado tirei 640 e 160 na competência I, com um texto "pobre" - igual você diz - mas que não tinha nenhum erro gramatical, apenas erros de vírgula. No meu cursinho já tirei 200 - com uma ex-corretora. Em todos os treinos essa é minha melhor competência.

*Nunca fiz cursinho, nem online nem popular. Estudei a vida inteira sozinho e em escola pública também, sendo filho de mãe solteira e faxineira. Eu penso assim: cada um tem suas habilidades e suas dificuldades; a gente não pode ficar se comparando com os outros, porque todos somos diferentes. Precisamos tentar evoluir sempre, com base nos recursos que temos atualmente. Até mesmo porque ninguém vai se importar se eu tive as mesmas oportunidades do Lucas Felpi ou não; no final, tiramos a mesma nota.
"Faça o seu melhor, dentro do que a situação atual permite, até que a situação atual melhore, para que você faça melhor ainda."
*De fato, eu sempre fui muito exigente comigo mesmo, e tendo a ser exigente com os outros também. Me perdoa por meu perfeccionismo ter te impactado.
*Sua redação está boa. A questão é: o Enem está ficando mais exigente a cada ano nos critérios de correção. As instruções que eram dadas a um corretor há dois anos já não são as mesmas atualmente. É só você pensar que o número de redações nota mil tem se mantido em porcentagens extremamente baixas. Algumas das redações nota mil presentes na cartilha de 2015 e de 2016, por exemplo, não tirariam mil ano passado. Eu acho interessante você se preparar a um nível um pouco acima da prova do ano passado, para não ser pego de surpresa (como eu fui, nos dois anos em que fiz). 
*Eu não acho que seja um problema utilizar uma linguagem "demasiadamente formal", assim como empregar uma linguagem "bem simples". O problema está em misturar as duas, entende? Vou repetir: é só questão de estilística; você não perderia ponto por isso. Fica tranquilo.
*Aproveite o tempo que você está dispendendo estudando redação para aprender o máximo possível de técnicas de escrita. Se o Enem exige que o candidato escreva um texto, é porque consiste em uma habilidade necessária não somente para passar no vestibular, mas para a vida. Você vai precisar escrever muita coisa na faculdade, por exemplo, e ninguém lá vai se importar se você teve menos oportunidades no passado ou não. Eu estou parecendo bravo haha, me desculpa, mas é assim que funciona a vida, tlg? 
Você me pareceu muito inteligente e esforçado, e tem capacidade de chegar aonde quiser.

6. Como eu não quero parecer um chato de galocha mimado, obrigado pela correção e também foi a primeira vez que tirei 200 nas Competências 2 e 5.


Eu iria publicar outra redação para correção mas acredito que depois do que eu falei, você não vai mais querer corrigir.
Não vou prometer, porque minhas aulas acabaram de voltar, mas, assim que eu tiver um tempinho, dou uma olhadinha. 

Como eu estou treinando, acho válido questionar o porquê das notas atribuídas, para evitar repetir os erros. Mas, como dizem alguns, a redação parece funcionar como uma Loteria.

Não acho que redação seja "loteria". Isso é comentário de pessoa que tira 960/980 e não sabe admitir que errou. Para mim, o que separa o 960 de um 1000 é exatamente o perfeccionismo de quem não deixa escapar nenhum detalhe, não acha?

Abraço.