Formação Educacional dos Surdos

Boa noite galera. Essa foi minha redação do ENEM desse ano. Estou vendo que tem muita gente postando e gostaria que a comunidade opinasse sobre esse texto. Tomei a liberdade de marcar alguns erros ortográficos que acabei cometendo até por causa da pressa da prova. Se ajudar em algo, em outro tópico tem uma redação que eu fiz no último ENEM e tirei 800, 160 em todas as competências. Particularmente, acho que essa não ficou perfeita, mas ficou bem melhor do que a anterior. Então, o que acham?

    Segundo o pedagogo Paulo Freire, educar é criar condições para a produção do conhecimento. Contudo, no que se refere ao desenvolvimento educacional dos surdos, como atingir esse ideal de autonomia do intelecto, se sobre esse grupo incidem as marcas da exclusão e do abandono? A educação dos surdos encontra desafios inerentes à comunicação, à inclusão no espaço escolar e ao emprego, os quais necessitam ser superados a fim de permitir que a educação cumpra seu papel transformador.
 

  Em primeiro lugar, o processo de ensino-aprendizagem do surdo é precário. Isso se deve à ausência da figura do intérprete de LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) nas escolas de ensino regular, não obstante a exigência desse profissional pela constituição brasileira (erro-maiúscula). Dessa forma, a comunicação do aluno surdo com os professores e colegas fica naturalmente comprometida. Ademais, é necessário frisar que a alfabetização do surdo deve começar em casa. Contudo (todavia), muitas famílias não sabem com lidar com as especificidades da língua de sinais, o que impacta negativamente o repasse de valores culturais que, conforme afirma Émilie Durkheim, é responsabilidade da família. (esqueci de colocar esse acento na família em todas as vezes que a escrevi)

   Outrossim, o Estado rompe com o princípio da isonomia ao não assegurar uma infraestrutura de ensino que garanta a inclusão desse grupo social na escola. Só para ilustrar, muitas instituições de ensino não contam com livros escritos em LIBRAS. Dessa forma, instaura-se a institucionalização do abandono e a consequente exclusão do surdo do ambiente escolar. Dados do INEP revelam que as matrículas dos alunos surdos nas escolas regulares têm caído vertiginosamente, face a (em face da) desarticulação das redes de apoio pedagógico.
 
   Outra face do problema é em relação à empregabilidade desses indivíduos. Zygmunt Bauman afirmava que os indivíduos não se sentem mais responsáveis pelo bem comum. Tal análise encontra respaldo na postura de muitas empresas, que não se solidarizam e oferecem oportunidade a essa população marginalizada. Destarte, elimina-se o potencial criativo desses cidadãos (coloquei uma frase pra terminar esse parágrafo, mas não me lembro exatamente do que foi, mas ficou bem fechadinho até).

    Por fim, é necessário que o Ministério da Educação exija e fiscalize a presença do intérprete de LIBRAS nas escolas de ensino básico, bem como assegurar a disponibilidade e acesso a recursos tecnológicos que facilitem o ensino do surdo, tais como videoaulas produzidas em LIBRAS, a fim de que esses alunos sintam-se socialmente inseridos.  O mesmo órgão pode realizar palestras em espaços públicos como praças ou escolas com o intuito de informar as famílias quanto ao processo de alfabetização do surdo. Ao mesmo tempo, o Poder Legislativo também deve criar leis que exijam reserva de vagas de emprego específicas para surdos, com o intuito de assegurar a esse grupo uma melhor qualidade de vida.

Olá....
Achei um excelente texto, não sei se coube em 30 linhas dado a extensão, mas acho que sim né...
Hm, bem articulado, bela argumentação, alguns erros gramaticais mas nada visível, somente na conclusão, faltou tornar específico o modo colocando "por meio de" para facilitar a vida do corretor (e se beneficiar com a nota)... Bom, grandes chances de ser 920 ou 960, até mil...talvez, na melhor das hipóteses.

Valeu! Coube sim em 30 linhas. Mas tive mais ideias do que o tempo e o espaço permitem, então eu tive que tirar muita coisa do texto original.

Em relação ao 4° parágrafo, será que pega alguma coisa o fato de eu ter mencionado a inclusão no mercado de trabalho? Achei essa parte da proposta meio nada a ver e a  única relação que eu pude fazer com a educação foi com o potencial criativo do surdo que acaba sendo prejudicado.

fernandesrc escreveu:Valeu! Coube sim em 30 linhas. Mas tive mais ideias do que o tempo e o espaço permitem, então eu tive que tirar muita coisa do texto original.

Em relação ao 4° parágrafo, será que pega alguma coisa o fato de eu ter mencionado a inclusão no mercado de trabalho? Achei essa parte da proposta meio nada a ver e a  única relação que eu pude fazer com a educação foi com o potencial criativo do surdo que acaba sendo prejudicado.

Apesar de não ter envolvimento direto com o recorte temático "Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil", o parágrafo serviu bem para discutir o que você mencionou na introdução, mas é possível sim, fazer a relação entre emprego e formação educacional, como uma sendo consequência da outra... Achei bem interessante esse parágrafo, complementando o desenvolvimento até aí feito, não acho que vá perder nota, e sim, ganhar.

"Só para ilustrar, muitas instituições de ensino não contam com livros escritos em LIBRAS. Dessa forma, instaura-se a institucionalização do abandono e a consequente exclusão do surdo do ambiente escolar. " 


Observações:

Amigo, os surdos sabem ler os livros escritos em Língua Portuguesa. Eles só não entendem palestras, vídeos e aulas apresentadas somente pela comunicação oral. Por esse motivo, numa sala de aula, deve haver um intérprete ao lado do Professor(a). Portanto, não exitem livros escritos "em Libras", mas sim, em Português. 


Veja a imagem:


 


Simplificando:


Comunicação gestual (Libras) - Serve para substituí a comunicação oral da Língua Portuguesa. 


Comunicação escrita (Língua Portuguesa) - Os surdos e mudos entendem e até utilizam no seu dia-a-dia.   



Continuando...      


"Tal análise encontra respaldo na postura de muitas empresas, que não se solidarizam e oferecem oportunidade a essa população marginalizada." (Pronuncie o trecho azul  oralmente).


 E aí? Percebeu que o trecho azul ficou meio estranho no que se concerne ao entendimento e entonação.    


Sugestão de melhoramento:


"Tal análise encontra respaldo na postura de muitas empresas, que não se solidarizam e tampouco oferecem oportunidade a essa população marginalizada."



Essas foram as minhas observações. Boa sorte e até logo!

No próprio texto motivador consta:

Art. 28.  Incumbe ao poder público assegurar, criar, desenvolver, implementar, incentivar, acompanhar e avaliar:
IV - oferta de educação bilíngue, em Libras como primeira língua e na modalidade escrita da língua portuguesa como segunda língua, em escolas e classes bilíngues e em escolas inclusivas;
                                        ...
XII - oferta de ensino da Libras, do Sistema Braille e de uso de recursos de tecnologia assistiva, de forma a ampliar habilidades funcionais dos estudantes, promovendo sua autonomia e participação;

Cara, existem sim livros escritos em LIBRAS.

http://www.surdosol.com.br/o-livro-cinderela-surda-e-o-primeiro-livro-de-literatura-infantil-do-brasil-escrito-em-lingua-de-sinais/


Outra coisa, a língua portuguesa não é a língua natural do surdo. Basicamente, ele não é alfabetizado em português, como nós, e nem precisa ser. Digo isso pois fiz alguns semestres de educação inclusiva na facul de licenciatura em música e isso foi extensivamente abordado.

Ah, inclusive, existem até mesmo métodos para ensinar música para surdos. Por meio de outras técnicas, é possível dar ao músico que nasceu surdo noções de som como ritmo, altura, duração, etc. Não achei que fosse pertinente pra redação, mas fiquei com muita vontade de colocar.



Mas enfim, o surdo não precisa necessariamente saber a língua portuguesa. Basicamente, ele é como se fosse um "estrangeiro". Inclusive, uma crítica frequente que existe em relação a acessibilidade do surdo é que muitas vezes é necessário que ele escreva um bilhete pra ser compreendido em locais onde deveria ter um intérprete. 

Até porque o ensino da língua portuguesa para uma pessoa surda muitas vezes é traumático. O processo de oralização para o surdo costuma ser conduzido de forma bem duvidosa. 

Existem surdos oralizados ou não. Nos casos dos não oralizados, é sim, necessário ter a oferta tanto de LIBRAS quanto da língua portuguesa, que, na prática, são línguas diferentes, conforme versa o artigo 28.

Só pra registro, existe a modalidade escrita da Língua de Sinais chamada ELis. Essa língua foi criada em 1998 ou 99 mas não é amplamente difundida.
A ideia é que, se as LIBRAS são uma língua à parte e é a língua natural do surdo, faz muito mais sentido ter uma técnica de escrita própria. Então, tecnicamente, não acho que é incorreto dizer que algo é "escrito em libras".


Quanto ao fato de os surdos saberem português, isso é incorreto. Dados da Universidade Federal de Juiz de Fora afirmam que 30% dos surdos não sabem português e outros 70% sabem, mas não compreendem (um nível próximo ao analfabetismo funcional, talvez).

Na imagem que vc mandou, provavelmente a intérprete teve que traduzir o que estava escrito no quadro para os alunos. Outra coisa, se os surdos soubessem ler português, a prova do ENEM 2017 para os surdos teria sido aplicada como a de todo mundo, e não na modalidade visual.

Sim, a educação bilíngue é a proposta governamental de educação do surdo, o que não impede a progressão de outras ideias sobre a comunicação desses indivíduos.

O que está em questão é a adequação ou não do termo "escrito em libras". Vc disse que não existem livros escritos nessa língua. Contudo, como eu disse, a Elis, a modalidade escrita das libras, existe há quase 20 anos e é sim possível escrever um livro de 1000 páginas em libras se vc quiser.

Naturalmente, além de ser alfabetizado em língua portuguesa, ele também seria alfabetizado na modalidade escrita de sua língua natural.