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Memórias Póstumas

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Mensagem por Ruffino Sáb 22 Nov 2014, 21:35

O vergalho
Tais eram as reflexões que eu vinha fazendo, por
aquele Valongo* fora, logo depois de ver e ajustar a casa.
Interrompeu-mas um ajuntamento; era um preto que
vergalhava outro na praça. O outro não se atrevia a fugir;
gemia somente estas únicas palavras: — “Não, perdão,
meu senhor; meu senhor, perdão!” Mas o primeiro não
fazia caso, e, a cada súplica, respondia com uma
vergalhada nova.
— Toma, diabo! dizia ele; toma mais perdão, bêbado!
— Meu senhor! gemia o outro.
— Cala a boca, besta! replicava o vergalho.
Parei, olhei... Justos céus! Quem havia de ser o
do vergalho? Nada menos que o meu moleque
15 Prudêncio, — o que meu pai libertara alguns anos antes.
Cheguei-me; ele deteve-se logo e pediu-me a bênção;
perguntei-lhe se aquele preto era escravo dele.
— É, sim, nhonhô.
— Fez-te alguma cousa?
20 — É um vadio e um bêbado muito grande. Ainda
hoje deixei ele na quitanda, enquanto eu ia lá embaixo
na cidade, e ele deixou a quitanda para ir na venda beber.
— Está bom, perdoa-lhe, disse eu.
— Pois não, nhonhô. Nhonhô manda, não pede.
25 Entra para casa, bêbado!
Saí do grupo, que me olhava espantado e
cochichava as suas conjecturas. Segui caminho, a
desfiar uma infinidade de reflexões, que sinto haver
inteiramente perdido; aliás, seria matéria para um bom
30 capítulo, e talvez alegre. Eu gosto dos capítulos alegres;
é o meu fraco. Exteriormente, era torvo o episódio do
Valongo; mas só exteriormente. Logo que meti mais
dentro a faca do raciocínio achei-lhe um miolo gaiato,
fino, e até profundo. Era um modo que o Prudêncio tinha
35 de se desfazer das pancadas recebidas, — transmitindo-as
a outro. Eu, em criança, montava-o, punha-lhe um freio
na boca, e desancava-o sem compaixão; ele gemia e
sofria. Agora, porém, que era livre, dispunha de si mesmo,
dos braços, das pernas, podia trabalhar, folgar, dormir,
40 desagrilhoado da antiga condição, agora é que ele se
desbancava: comprou um escravo, e ia-lhe pagando, com
alto juro, as quantias que de mim recebera. Vejam as
sutilezas do maroto!


Por fazer parte de uma obra essencialmente realista, a narrativa em análise apresenta um sujeito narrador que
A) denuncia, independentemente de classe social, as mazelas humanas.
B) considera o escravo que é maltratado por Prudêncio como produto do meio em que vive.
C) revela a sua aversão e negação aos infortúnios humanos e às desigualdades sociais.
D) explicita subjetivamente as contradições emocionais que perpassam em seus pensamentos.
E) evidencia a concepção determinista, ao considerar o negro subjugado em sua condição zoomórfica.

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Mensagem por Nina Luizet Ter 02 Dez 2014, 14:53

A) Alternativa correta
B)Apresenta uma ideologia naturalista, que é comprovada pela tese determinista : A influência do meio, do momento e da raça. Machado de Assis é realista em sua segunda fase.
C)Aversão às mazelas sociais e  negação aos infortúnios humanos não é característica machadiana. 
D)Subjetivismo não é característica do Realismo e muito menos de Machado de Assis. O que está presente em Memórias Póstumas de Brás Cubas é a descrição e o objetivismo.
E) Novamente, zoomorfismo e determinismo são características do Naturalismo, e não do Realismo.
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Mensagem por Nina Luizet Sáb 24 Jan 2015, 15:33

Complementando : Machado de Assis critica a sociedade em geral , não escolhendo ''alfinetar'' determinada classes social. Por meio de um narrador onisciente, que está em um plano metafísico , ele se vê na possibilidade de julgar sem ser julgado , revelando intrinsecamente todas as mazelas inerentes ao ser humano.
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