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Mensagem por Gemma Galgani Qui 07 Out 2021, 15:06

oi gente, eu queria entender entender melhor esse gab, queria ter uma outra visao.... gab d

Para responder  às questões  de  02  a  05, leia  a crônica  de Machado de  Assis, publicada em 19.05.1888.

 Eu pertenço a uma família de profetas  après  coup1,  post facto 2,  depois do gato morto, ou como melhor nome tenha em  holandês. Por  isso digo, e  juro  se  necessário for,  que toda a história desta lei de 13 de maio estava por mim prevista, tanto que  na segunda-feira,  antes mesmo dos debates,  tratei de a lforriar um  molecote que tinha, pessoa dos seus dezoito anos, mais ou menos.  Alforriá-lo  era nada; entendi que, perdido por mil, perdido por mil e quinhentos, e dei um jantar. Neste jantar,  a que os meus amigos deram o nome de banquete, em falta de outro melhor, reuni umas cinco pessoa s,  conquanto as notícias dissessem trinta e três  (anos de Crist o), no intuito de lhe dar um aspecto simbólico. No golpe do meio (coup du milieu 3, mas eu prefiro falar a minha  língua),  levantei-me eu com a taça de champanha e declarei  que, acompanhando  as ideias  pregadas  por Cristo,  há dezoito séculos, restituía a liberdade  ao meu escravo  Pancrácio; que  entendia que a nação inteira devia acompanhar  as mesmas ideias  e imitar o meu  exemplo;  finalment e, que a liberdade  era um dom de Deus, que os homens não p odiam roubar sem pecado. Pancrácio,  que estava à espreita,  entrou  na sala, como um furacão, e veio a abra çar-me os pés. Um dos meus amigos (creio que é ainda meu sobrinho)  pegou de outra taça, e pediu  à ilustre  assembleia  que correspondesse  ao ato que eu acabava  de publicar, brindando  ao primeiro  dos cariocas. Ouvi cabisbaixo; fiz outro discurso agradecendo,  e entreguei a carta ao molecote.  Todos os lenços comovidos apanharam as lágrimas de admiração. Caí na cadeira e não vi mais nada. De noite,  recebi muitos cartões.  Creio que estão pintando o meu retrato, e suponho que a óleo. No dia seguinte, chamei Pancrácio e disse-lhe  com rara franqueza: —  Tu és livre, podes  ir para  onde quiseres. Aqui  tens casa amiga, já conhecida e tens mais um ordenado,  um o rdenado que… — Oh! meu senhô! fico. — … Um ordenado  pequeno,  mas que há de crescer. Tudo cresce neste mundo; tu cresceste imensamente.  Quando nasceste, eras um pirralho  deste tamanho; hoje estás mais alto  que eu.  Deixa ver;  olha, és  mais alto quatro dedos… (Malvados, 2019.) —  Artura não qué dizê nada, não, senhô… —  Pequeno ordenado, repito, uns  seis mil-réis; mas é  de grão em grão que a galinha  enche o seu papo.  Tu vales muito mais que uma galinha. — Eu vaio um galo, sim, senhô. — Justamente. Pois seis mil-réis. No fim de um ano, se andares bem, conta com oito. Oito ou sete. Pancrácio aceitou tudo;  aceitou  até  um  peteleco que lhe dei  no dia seguinte, por me não escovar  bem as botas; efeitos da liberdade.  Mas eu expliquei-lhe  que  o peteleco,  sendo  um impulso natural, não podia anular o direito civil adquirido  por um título que lhe dei. Ele continuava  livre, eu de mau humor; eram dois estados naturais, quase divinos. Tudo compreendeu o meu bom Pancrácio; daí para cá, tenho-lhe  despedido alguns pontapés, um ou outro puxão de orelhas, e chamo-lhe besta quando lhe não chamo filho do diabo; coisas todas que ele recebe humildemente, e  (Deus me perdoe!) creio que até alegre. O meu plano  está feito; quero  ser deputado,  e, na circular que mandarei  aos meus eleitores,  direi  que, antes, muit o a ntes de abolição legal,  já eu, em casa, na modéstia da f amília, libertava um escravo, ato  que comoveu a toda a gent e que dele teve notícia; que esse escravo tendo aprendido  a ler, escrever  e contar  (simples  suposição)  é então  pro fessor de Filosofia no Rio das Cobras; que os homens puros, grandes e verdadeiramente  políticos, não são os que obedecem à lei, mas os que  se antecipam  a ela, dizendo  ao escravo:  és livre, antes que o digam os poderes  públicos,  sempre retardatários, trôpegos e incapazes  de restaurar a justiça na terra, para satisfação do céu. 
(Machado  de Assis.  Crônicas escolhidas, 2013.) 

1 après coup: a posteriori.
 2 post facto: após o fato.
 3  coup  du milieu: bebida,  às vezes acompanhada  de brindes,  que  se tomava no meio de um banquete. 
    


QUeStão     03

 O trecho “profetas  après coup,  post facto,  depois  do gato morto” (1o  parágrafo) sugere que o narrador se considera um profeta de fatos ou eventos

 (A)  enigmáticos. (B)  contestáveis. (C)  imaginários. (D)  consumados. (E)  cotidianos.
Gemma Galgani
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