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Redação UFPR 2019/2020 - proposta 3

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Mensagem por jopagliarin Qui 27 Jan 2022, 10:19

Leia a crônica abaixo – “A sociedade líquida”, de 2015 –, escrita pelo filósofo italiano Umberto Eco, que serve de introdução ao último livro do escritor, Pape Satan Aleppe: crônicas de uma sociedade líquida, publicado postumamente.

A ideia de modernidade ou sociedade “líquida” deve-se, como todos sabem, a Zygmunt Bauman. 
A sociedade líquida começou a delinear-se com a corrente conhecida como pós-moderno (aliás, um termo “guarda-chuva” sobre o qual se amontoam diversos fenômenos, da arquitetura à filosofia e à literatura, e nem sempre de modo coerente). O pós-modernismo assinalava a crise das “grandes narrativas” que se consideravam capazes de impor ao mundo um modelo de ordem e fazia uma revisitação lúdica e irônica do passado, entrecruzando-se em várias situações com pulsões niilistas. Mas para Bordoni, o pós-modernismo também conheceu uma fase de declínio. [...] Servia para assinalar um acontecimento em andamento e representou uma espécie de balsa que levava da modernidade a um presente ainda sem nome. Para Bauman, entre as características deste presente nascente podemos incluir a crise do Estado (que liberdade de decisão ainda têm os Estados nacionais diante dos poderes das entidades supranacionais?). Desaparece assim uma entidade que garantia aos indivíduos a possibilidade de resolver de modo homogêneo vários problemas do nosso tempo, e, com sua crise, despontaram a crise das ideologias, portanto, dos partidos e, em geral, de qualquer apelo a uma comunidade de valores que permita que o indivíduo se sinta parte de algo capaz de interpretar suas necessidades. Com a crise do conceito de comunidade, emerge um individualismo desenfreado, onde ninguém é mais companheiro de viagem de ninguém, e sim seu antagonista, alguém contra quem é melhor se proteger. Esse “subjetivismo” solapou as bases da modernidade, que se fragilizaram, dando origem a uma situação em que, na falta de qualquer ponto de referência, tudo se dissolve numa espécie de liquidez. Perde-se a certeza do direito (a justiça é percebida como inimiga) e as únicas soluções para o indivíduo sem pontos de referência são o aparecer a qualquer custo, aparecer como valor [...], e o consumismo. Trata-se, porém, de um consumismo que não visa a posse de objetos de desejo capazes de produzir satisfação, mas que torna estes mesmos objetos imediatamente obsoletos, levando o indivíduo de um consumo a outro numa espécie de bulimia sem escopo (o novo celular nos oferece pouquíssimo a mais em relação ao velho, mas descarta-se o velho apenas para participar dessa orgia do desejo). O que poderá substituir esta liquefação? 

Elabore um texto a partir da pergunta que fecha o texto de U. Eco. Seu texto deverá: contextualizar a temática; identificar características relevantes da sociedade atual apontadas por U. Eco; dialogar com essa caracterização, apresentando uma reflexão na direção proposta pela pergunta; apresentar as razões que embasam a reflexão que você está desenvolvendo; ter entre 10 e 15 linhas; respeitar as características discursivo-formais do gênero solicitado. 
____________


O conceito de sociedade líquida surgiu com a decadência das grandes correntes filosóficas norteadores de sentido, como o iluminismo no século 18 e o positivismo no século 20. As consequências desse cenário se estendem do plano político ao social, conforme retratadas na crônica "A sociedade líquida", publicada em 2015 pelo filósofo Umberto Eco. Na obra, o escritor usa das ideias do cunhador do termo que dá nome para o seu texto, Zygmunt Bauman, para discorrer sobre as características desse agrupamento social - também chamado de pós-moderno. Dentre elas, há a perda do poder do Estado, que, como entidade solucionadora dos problemas, sua ausência gera conflitos ideológicos e partidários, enfraquecendo a noção de comunidade. Como efeito disso, tem-se a ascensão do individualismo e o desprendimento do conceito de justiça, já que esta requer o zelo pelo coletivo, e o apego aos bens materiais, que são periodicamente renovados. Diante dessa situação, questiona-se o seguinte: o que poderá substituir essa liquefação? Bem como visto na Alemanha, após ser derrotada na primeira guerra mundial, o líder Adolf Hitler usou do próprio sentimento de tristeza dos alemães para propagar uma ideologia nacionalista e implantar um Estado totalitário. De igual forma, tendo em vista que a pós-modernidade não possui coesão social, é possível que líderes políticos impunham governos autoritários sem oposição popular significativa. Ainda, é esperado que o façam de forma ligeiramente despercebida, já que a sociedade líquida não tem senso de justiça e é egoísta para perceber e se sensibilizar com a vida de outrem.
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