David Hume- ENEM

O contrário de um fato qualquer é sempre possível, pois, além de jamais implicar uma contradição, o espírito o concebe com a mesma facilidade e distinção como se ele estivesse em completo acordo com a realidade.
Que o Sol não nascerá amanhã é tão inteligível e não implica mais contradição do que a afirmação de que ele nascerá. Podemos em vão, todavia, tentar demonstrar sua falsidade de maneira absolutamente precisa. Se ela fosse emonstrativamente falsa, implicaria uma contradição e o espírito nunca poderia concebê-la distintamente, assim como não pode conceber que 1 + 1 seja diferente de 2.

HUME, D. Investigação acerca do entendimento humano. São Paulo: Nova Cultural, 1999 (adaptado).

COMPARTILHE
O filósofo escocês David Hume refere-se a fatos, ou seja, a eventos espaço-temporais, que acontecem no mundo. Com relação ao conhecimento referente a tais eventos, Hume considera que os fenômenos

A acontecem de forma inquestionável, ao serem apreensíveis pela razão humana.
B ocorrem de maneira necessária, permitindo um saber próximo ao de estilo matemático.
C propiciam segurança ao observador, por se basearem em dados que os tornam incontestáveis.
D devem ter seus resultados previstos por duas modalidades de provas, com conclusões idênticas.
E exigem previsões obtidas por raciocínio, distinto do conhecimento baseado em cálculo abstrato.

Gabarito letra E. Não entendi esse gabarito, alguém pode me explicar ?

E o que seria essa matemática abstrata?

Eu acredito que a interpretação que se relaciona corretamente com a alternativa "E" diz respeito a natureza de uma determinada afirmação, ou seja, se essa for absurda, não causará dúvidas nem contradições, pois é completamente sem relação com a verdade de uma fato conhecido pela maioria. 
Exemplo: se alguém afirma: "As pessoas não precisam respirar para viver", não causará contradições nos ouvintes, pois todos nós sabemos, até por experiência própria, que necessitamos da respiração, é um fato
No entanto, se alguém afirmasse algo como: amanhã choverá (sem o auxílio de nenhum recurso), poderia ocorrer ou não, a dúvida é facilmente possível nesse caso, ou como diz Hume no texto, uma afirmação "demonstrativamente falsa".
O "cálculo abstrato" a que a letra E se refere, condiz com uma simples imaginação do que seria verdadeiro ou falso, o que é diferente do uso do raciocínio e da lógica, meios que Hume classifica como os confiáveis.
Espero que tenha ajudado

Obrigado pela explicação Kayla. Achei essa questão bem complicadinha, pelo fato do Hume ser um autor empirista e ela pontuar algo como raciocínio na resposta. Já tinha visto o exemplo do nascer do sol, mas não nessa abordagem. 

Ademais, seja bem vinda ao fórum!

Obrigada!

Muitas questões de humanas, incluindo filosofia, no ENEM são mais fáceis de se chegar a resposta pela interpretação do texto para a escolha da alternativa mais adequada, sabe? Nesse caso, Hume traz o raciocínio lógico quando exemplifica o cálculo matemático do "1+1", que também é um conhecimento empirista.
O empirismo, inclusive proposto por ele, utiliza o raciocínio, como está na letra E. Apesar de geralmente relacionarmos o uso do raciocínio apenas no racionalismo, ele também é utilizado através das experiências, até para que possa haver a crítica ao senso comum e à metafísica.