ENEM - IDADE MÉDIA

(Enem–2001) O texto a seguir reproduz parte de um diálogo entre dois personagens de um romance.
– Quer dizer que a Idade Média durou dez horas? – Perguntou Sofia.
– Se cada hora valer cem anos, então sua conta está certa. Podemos imaginar que Jesus nasceu à meia-noite, que Paulo saiu em peregrinação missionária pouco antes da meia noite e meia e morreu quinze minutos depois, em Roma. Até as três da manhã a fé cristã foi mais ou menos proibida. [...] Até as dez horas as escolas dos mosteiros detiveram o monopólio da educação. Entre dez e onze horas são fundadas as primeiras universidades.
GAARDER, Jostein. O Mundo de Sofia, Romance da História da Filosofia. São Paulo: Cia das Letras, 1997 (Adaptação).

O ano de 476 d.C., época da queda do Império Romano do Ocidente, tem sido usado como marco para o início da Idade Média. De acordo com a escala de tempo apresentada no texto, que considera como ponto de partida o início da Era Cristã, pode-se afirmar que

A) as Grandes Navegações tiveram início por volta das quinze horas.
B) a Idade Moderna teve início um pouco antes das dez horas.
C) o cristianismo começou a ser propagado na Europa no início da Idade Média.
D) as peregrinações do apóstolo Paulo ocorreram após os primeiros 150 anos da Era Cristã.
E) os mosteiros perderam o monopólio da educação no final da Idade Média.

alguém sabe porque a letra E esta falsa ?

Porque a Igreja monopolizou a educação formal até o surgimento da Reforma Protestante.
Com monopólio da educação ele está se referindo às universidades medievais.

Mas as reformas protestantes não ocorrem no final da idade média ?

A Reforma Protestante começa em 1517 quando Lutero publica suas 99 Teses.

A teoria mais tradicional, enfocada na história política, é de que Idade Média termina com a queda de Constantinopla ( 1453 ). Outras teorias, enfocadas na história econômica, dizem que terminam com as Grandes Navegações; outras teorias, enfocadas na história social, dizem que termina em 1517 mesmo, com as 99 Teses.

Mas perceba que, seja qual for a teoria aderida pelo vestibular, as primeiras universidades protestantes surgiriam dez anos depois das 99 Teses, já em 1527, dez anos depois do começo da Idade Moderna.

É claro que você não precisava dessas datas para resolver a questão, era só lembrar que a educação universitária européia era um monopólio medieval da Igreja Católica, e que esse monopólio foi terminar logo no início da Idade Moderna com um fenômeno tipicamente moderno, a Reforma Protestante.

Alguns autores também consideram que a idade média só acabou quando ocorreu a primeira revolução industrial na Inglaterra, pois o surgimento do proletariado acaba de vez com a corveia - um dos pilares que da sentido ao feudalismo e consequentemente as relações que sustentavam a idade média. Porém, ao meu ver, o feudalismo entra em colapso após as cruzadas - baixa idade média. Logo após esse período começam as reformas protestantes. Paralelamente, o saber teológico começa a ser colocado em cheque, a ciência renascentista começa a ganhar espaço etc. O homem e a natureza passam a ser o centro dos estudos, Deus é colocado em segundo plano.

Cuidado, porque agora já estamos conversando sobre duas coisas distintas.

Um autor pode dizer que o feudalismo acabou com a primeira revolução industrial, mas não pode dizer que a idade média acabou assim. Pelo menos, eu nunca vi isso.

O feudalismo é uma estrutura econômica, e a idade média englobava além dessa estrutura econômica, uma estrutura social, cultural e política que indiscutivelmente entrou em colapso antes de 1600, que é bem antes da primeira revolução industrial.

A discussão sobre o fim do feudalismo é bem mais "polêmica" do que a sobre idade média, porque envolve discutir pilares teóricos da teoria marxista. Geralmente, os marxistas defendem que o capitalismo surgiu cedo, e os liberais defendem que o feudalismo se "esticou" até bem mais tarde. Vestibulares, via de regra, seguem a abordagem marxista e marcam a transição do feudalismo pro mercantilismo logo com as grandes navegações.

Estamos falando de continente europeu. No japão, por exemplo, o xogunato só acabou no início do século XIX. E ainda hoje no  século XXI, existem resquícios dos tempos feudais, como práticas agrícolas insustentáveis, relações de poder baseadas no clientelismo, coronelismo etc.

No meu comentário eu estava me referindo exclusivamente ao continente europeu. Existem autores que defendem a manutenção do feudalismo até meados da Revolução Francesa, mas essas teorias não fazem parte do conteúdo programático de ensino médio ( são discussões de ensino superior em História e Ciências Sociais ). No E.M. se ensina que a Revolução Francesa eliminou privilégios feudais e foi iniciativa da burguesia em ascensão ( que é a versão marxista da história ).

Na academia a discussão já é se realmente existia essa burguesia ou não, se ela realmente estava em ascensão ou não, se ela realmente promoveu a revolução ou não, se realmente já existia um sistema pré-capitalista com a participação dessa burguesia ou se ainda era feudalismo, etc. etc..