Formas verbais

A verdade cruel e inútil
J. J. CAMARGO

    Edmond Ryan era um velho, antigo plantador de
milho aposentado, viúvo e solitário [...]. Com um tumor
agressivo de pleura, descoberto em fase avançada,
estava certamente vivendo seus últimos poucos
[5] meses. Fomos vê-lo num final de tarde e ele parecia
mais animado com a ideia de ir para casa no dia
seguinte. Quando o oncologista lhe entregou a receita,
ele quis saber a utilidade de cada medicamento.
Informado de que eram analgésicos, médios e fortes,
[10] ele argumentou:
    – Acho que não precisava tanto, doutor. Eu me
considero uma rocha para dor!
    E então o oncologista encerrou a discussão:
    – O senhor não subestime a dor da invasão das
[15] costelas que é o que o senhor vai descobrir quando
este tumor chegar lá!
    A bochecha do seu Edmond ainda tremia quando
saímos do quarto. Desconfortável, questionei o pro-
fessor dizendo que o Edmond provavelmente não iria
[20] dormir naquela noite, mas ele foi lacônico:
    – Fazê-lo dormir é a função do benzodiazepínico,
não minha!
    Na manhã seguinte, nevava lá fora, e antes de
entrar no bloco cirúrgico, fui me despedir daquele
[25] velhinho de cara fofa, que se anunciara uma rocha,
antes de descobrir que as palavras desprovidas de
afeto podem ser uma britadeira cruel. Tentei confortá-
-lo, mas o olho estava vazio. Quis então saber se havia
alguma coisa que eu pudesse fazer para ajudá-lo. Ele
[30] tomou minhas duas mãos e se despediu:
    – Volte para o Brasil e seja feliz. Este lugar aqui é
muito frio para você.


Assinale a alternativa correta sobre o valor e o emprego dos verbos no texto.

a)Os verbos considerar (linha 12) e anunciar (linha 25) são pronominais e pedem o mesmo tipo de complemento.
b)O modo imperativo, quando empregado nas falas do oncologista e do paciente, expressa uma ordem.
c)Formas verbais que indicam processos não concluídos estão ausentes do texto.
d)A forma verbal “iria”, em “não iria dormir” (linhas 19 e 20), expressa uma dúvida.

Sobre a alternativa d: por que não poderia estar certa? Eu vi um comentário que dizia que "iria" expressa possibilidade, e não dúvida. Mas se algo é apenas possível, sem certeza absoluta, não representa uma dúvida sobre a ocorrência?

Olá, Ana!

Olha, hoje estou um pouco sem tempo. Não vou fazer a resolução completa da questão, ok? Se houver dúvidas nas outras alternativas, por favor, pergunte.

Em relação a alternativa d), é necessário, antes de tudo, identificar o tempo verbal de "iria". Bom, "iria" é a conjugação do verbo "ir" no futuro do pretérito do indicativo. Lembre-se que verbos conjugados no futuro do pretérito indicam um fato que poderia ter acontecido posteriormente a uma situação passada, ou seja, é uma possibilidade passada. 

Veja na frase "eu iria para a França, se tivesse aquela oportunidade". Perceba que, ir para a França era uma possibilidade que não se concretizou, porque eu não tive aquela oportunidade. Consegue notar isso?

Respondendo melhor sua pergunta, não há conotação de dúvida na frase. Isso ocorre porque essa possibilidade é algo concreto. No exemplo que eu dei, ir pra França é uma possibilidade real, não uma incerteza. No texto do exercício, o autor utiliza a palavra "provavelmente" antes de "não iria", justamente pra criar um ar de incerteza, já que a própria conjugação não o traz.


Acredito que seja algo assim ou, pelo menos, foi essa a análise que consegui fazer da alternativa. Veja se faz sentido pra você.

No mais, bons estudos!

muito obrigada!