Fuvest - 2015
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Fuvest - 2015
Proposta:
Ferida aberta
...........A sociedade brasileira é, inegavelmente, segregada, e isso é uma herança histórica que ata da colonização do território nacional. Em que pese o fato de vivermos em um regime democrático, expressões dessa segregação vêm se intensificando. Destaca-se, nesse contexto, uma com elevado potencial lesivo à democracia: a "camarotização da sociedade", isto é, a tendência de as classes sociais distintas se manterem apartadas.
...........Não é difícil percebê-la em nossa sociedade. Com efeito, nos dias hodiernos é cada vez mais comum que as pessoas de diferentes estratos sociais frequentem diferentes escolas, diferentes hospitais, diferentes seções em um mesmo show – enfim, que frequentem espaços distintos. É visível no cotidiano que certos locais são mais "típicos" de uma ou de outra classe: não é comum encontrar, por exemplo, pessoas de baixa renda em um shopping center de luxo – local privilegiado, "refúgio" para os mais abastados –, compartilhando o mesmo espaço.
...........As origens dessa faceta específica da segregação socioeconômica no Brasil se relacionam com mudanças que ocorreram nas últimas décadas na sociedade nacional. O aumento progressivo dos direitos sociais dos indivíduos de classes baixas, e os programas governamentais de integração social desses estratos, geraram a insatisfação das elites do país, acomodadas a uma sociedade que historicamente foi, conforme aponta o sociólogo Roberto DaMatta, autoritária e individualista – com privilégios diversos.
...........A pertinência da camarotização está no fato de que esse processo contribui para o enfraquecimento da democracia. Surgido na Grécia Antiga, na península Ática, este regime político pressupõe, desde seu início, a convivência comum e o diálogo entre todos os cidadãos. Sem isso, o isolamento entre os cidadãos torna difícil o entendimento mútuo e o estabelecimento de uma noção de destino compartilhado. A democracia, em síntese, perde sua essência.
...........Retomar a "ágora " grega – o espaço público de interação, convívio e troca de experiências e debate de ideias – é imprescindível para preservar a democracia de nosso país e curar a chaga Salazar que a segregação representa em nossa sociedade.
- Spoiler:
Na verdade, durante a maior parte do século XX, os estádios eram lugares onde os executivos empresariais sentavam-se lado a lado com os operários, todo mundo entrava nas mesmas filas para comprar sanduíches e cerveja, e ricos e pobres igualmente se molhavam se chovesse. Nas últimas décadas, contudo, isso está mudando. O advento de camarotes especiais, em geral, acima do campo, separam os abastados e privilegiados das pessoas comuns nas arquibancadas mais embaixo. (…) O desaparecimento do convívio entre classes sociais diferentes, outrora vivenciado nos estádios, representa uma perda não só para os que olham de baixo para cima, mas também para os que olham de cima para baixo.
Os estádios são um caso exemplar, mas não único. Algo semelhante vem acontecendo na sociedade americana como um todo, assim como em outros países. Numa época de crescente desigualdade, a “camarotização” de tudo significa que as pessoas abastadas e as de poucos recursos levam vidas cada vez mais separadas. Vivemos, trabalhamos, compramos e nos distraímos em lugares diferentes. Nossos filhos vão a escolas diferentes. Estamos falando de uma espécie de “camarotização” da vida social. Não é bom para a democracia nem sequer é uma maneira satisfatória de levar a vida.
Democracia não quer dizer igualdade perfeita, mas de fato exige que os cidadãos compartilhem uma vida comum. O importante é que pessoas de contextos e posições sociais diferentes encontrem-se e convivam na vida cotidiana, pois é assim que aprendemos a negociar e a respeitar as diferenças ao cuidar do bem comum.
Michael J. Sandel. Professor da Universidade Harvard. O que o dinheiro não compra. Adaptado
Comentário do Prof. Michael J. Sandel referente à afirmação de que, no Brasil, se teria produzido uma sociedade ainda mais segregada do que a norte-americana.
O maior erro é pensar que serviços públicos são apenas para quem não pode pagar por coisa melhor. Esse é o início da destruição da ideia do bem comum. Parques, praças e transporte público precisam ser tão bons a ponto de que todos queiram usá-los, até os mais ricos. Se a escola pública é boa, quem pode pagar uma particular vai preferir que seu filho fique na pública, e assim teremos uma base política para defender a qualidade da escola pública. Seria uma tragédia se nossos espaços públicos fossem shopping centers, algo que acontece em vários países, não só no Brasil. Nossa identidade ali é de consumidor, não de cidadão.
Entrevista. Folha de S. Paulo, 28/04/2014. Adaptado.
[No Brasil, com o aumento da presença de classes populares em centros de compras, aeroportos, lugares turísticos etc., é crescente a tendência dos mais ricos a segregar-se em espaços exclusivos, que marquem sua distinção e superioridade.] (…) Pode ser que o fenômeno “camarotização”, isto é, a separação física entre classes sociais, prospere para muitos outros setores. De repente, os supermercados poderão ter ala VIP, com entrada independente, cuja acessibilidade, tacitamente, seja decidida pelo limite do cartão de crédito.
Renato de P. Pereira. www.gazetadigital.com.br, 06/05/2014. [Resumido] e adaptado.
Até os anos de 1960, a escola pública que eu conheci, embora existisse em menor número, tinha boa qualidade e era um espaço animado de convívio de classes sociais diferentes. Aprendíamos muito, uns com os outros, sobre nossas diferentes experiências de vida, mas, em geral, nos sentíamos pertencentes a uma só sociedade, a um mesmo país e a uma mesma cultura, que era de todos. Por isso, acreditávamos que teríamos, também, um futuro em comum. Vejo com tristeza que hoje se estabeleceu o contrário: as escolas passaram a segregar os diferentes estratos sociais. Acho que a perda cultural foi imensa e as consequências, para a vida social, desastrosas.
Trecho do testemunho de um professor universitário sobre a Escola Fundamental e Média em que estudou.
Os três primeiros textos aqui reproduzidos referem-se à “camarotização” da sociedade – nome dado à tendência a manter segregados os diferentes estratos sociais. Em contraponto, encontra-se também reproduzido um testemunho, no qual se recupera a experiência de um período em que, no Brasil, a tendência era outra.
Tendo em conta as sugestões desses textos, além de outras informações que julgue relevantes, redija uma dissertação em prosa, na qual você exponha seu ponto de vista sobre o tema “Camarotização” da sociedade brasileira: a segregação das classes sociais e a democracia.
Instruções:
A redação deve ser uma dissertação, escrita de acordo com a norma padrão da língua portuguesa.
Escreva, no mínimo, 20 linhas, com letra legível. Não ultrapasse o espaço de 30 linhas da folha de redação.
Dê um título a sua redação.
Ferida aberta
...........A sociedade brasileira é, inegavelmente, segregada, e isso é uma herança histórica que ata da colonização do território nacional. Em que pese o fato de vivermos em um regime democrático, expressões dessa segregação vêm se intensificando. Destaca-se, nesse contexto, uma com elevado potencial lesivo à democracia: a "camarotização da sociedade", isto é, a tendência de as classes sociais distintas se manterem apartadas.
...........Não é difícil percebê-la em nossa sociedade. Com efeito, nos dias hodiernos é cada vez mais comum que as pessoas de diferentes estratos sociais frequentem diferentes escolas, diferentes hospitais, diferentes seções em um mesmo show – enfim, que frequentem espaços distintos. É visível no cotidiano que certos locais são mais "típicos" de uma ou de outra classe: não é comum encontrar, por exemplo, pessoas de baixa renda em um shopping center de luxo – local privilegiado, "refúgio" para os mais abastados –, compartilhando o mesmo espaço.
...........As origens dessa faceta específica da segregação socioeconômica no Brasil se relacionam com mudanças que ocorreram nas últimas décadas na sociedade nacional. O aumento progressivo dos direitos sociais dos indivíduos de classes baixas, e os programas governamentais de integração social desses estratos, geraram a insatisfação das elites do país, acomodadas a uma sociedade que historicamente foi, conforme aponta o sociólogo Roberto DaMatta, autoritária e individualista – com privilégios diversos.
...........A pertinência da camarotização está no fato de que esse processo contribui para o enfraquecimento da democracia. Surgido na Grécia Antiga, na península Ática, este regime político pressupõe, desde seu início, a convivência comum e o diálogo entre todos os cidadãos. Sem isso, o isolamento entre os cidadãos torna difícil o entendimento mútuo e o estabelecimento de uma noção de destino compartilhado. A democracia, em síntese, perde sua essência.
...........Retomar a "ágora " grega – o espaço público de interação, convívio e troca de experiências e debate de ideias – é imprescindível para preservar a democracia de nosso país e curar a chaga Salazar que a segregação representa em nossa sociedade.
rrrjsj36- Jedi
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Re: Fuvest - 2015
Ferida aberta título ruim, não informa o assunto do texto
...........A sociedade brasileira é, inegavelmente, segregada, e isso é uma herança histórica que ata da colonização do território nacional. Em que pese o fato de vivermos em um regime democrático, expressões dessa segregação vêm se intensificando. Destaca-se, nesse contexto, uma com elevado potencial lesivo à democracia: a "camarotização da sociedade", isto é, a tendência de as classes sociais distintas se manterem apartadas. Cadê a sua tese? Não ficou claro o ponto de vista a ser defendido. Parece um parágrafo expositivo.
...........Não é difícil percebê-la (perceber quem? A camarotização?Evite retomada de textos de outros parágrafos) em nossa sociedade. Com efeito, nos dias hodiernos é cada vez mais comum que as pessoas de diferentes estratos sociais frequentem diferentes escolas, diferentes hospitais, diferentes seções em um mesmo show– enfim, que frequentem espaços distintos. É visível no cotidiano que certos locais são mais "típicos" de uma ou de outra classe: não é comum encontrar, por exemplo, pessoas de baixa renda em um shopping center de luxo – local privilegiado, "refúgio" para os mais abastados –, compartilhando o mesmo espaço.
...........As origens dessa faceta específica da segregação socioeconômica no Brasil se relacionam com mudanças que ocorreram nas últimas décadas na sociedade nacional. O aumento progressivo dos direitos sociais dos indivíduos de classes baixas, e os programas governamentais de integração social desses estratos, geraram a insatisfação das elites do país, acomodadas a uma sociedade que historicamente foi, conforme aponta o sociólogo Roberto DaMatta, autoritária e individualista – com privilégios diversos.
...........A pertinência da camarotização está no fato de que esse processo contribui para o enfraquecimento da democracia. Surgido na Grécia Antiga, na península Ática, este regime político pressupõe, desde seu início, a convivência comum e o diálogo entre todos os cidadãos. Sem isso, o isolamento entre os cidadãos torna difícil o entendimento mútuo e o estabelecimento de uma noção de destino compartilhado. A democracia, em síntese, perde sua essência. Argumento ok!
...........Retomar a "ágora " grega – o espaço público de interação, convívio e troca de experiências e debate de ideias – é imprescindível para preservar a democracia de nosso país e curar a chaga Salazar que a segregação representa em nossa sociedade. Bom uso da bagagem cultural e boa reflexão filosófica. O que seria essa chaga Salazar?
É uma dissertação argumentativa com alguns deslizes ao meu ver. Não notei uma tese clara na introdução. Ela é a parte mais importante do texto! E não notei com frequência a reflexão filosófica e bagagem cultural.
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Re: Fuvest - 2015
Agora fiquei em dúvida... antes eu fazia títulos que já dessem uma ideia de qual vai ser minha tese, mas o prof. Rafael do site Descomplica disse que, no caso da FUVEST, pode haver maior liberdade no título, colocando algo que não remete imediatamente ao assunto, mas que chama a atenção...
Por exemplo: http://www.fuvest.br/vest2009/bestred/504305.jpg
ps: Escrevi errado ali, era para ser chaga calazar, acabei digitando "Salazar", acho que foi porque tinha estudado a descolonização das colônias portuguesas e isso ficou na cabeça kkkkk
Por exemplo: http://www.fuvest.br/vest2009/bestred/504305.jpg
ps: Escrevi errado ali, era para ser chaga calazar, acabei digitando "Salazar", acho que foi porque tinha estudado a descolonização das colônias portuguesas e isso ficou na cabeça kkkkk
rrrjsj36- Jedi
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Re: Fuvest - 2015
Então, meu antigo professor de redação falava para escrever títulos claros e informativos. Esse Rafael disse o contrário para o estilo da FUVEST. Não sei quem está certo, a melhor coisa a ser feita é dar uma lida geral nas melhores redações e ver o que eles colocam com mais frequência.
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