PiR2
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.

Descartes

2 participantes

Ir para baixo

Descartes Empty Descartes

Mensagem por Nova Era Dom 08 Abr 2018, 12:47

Quais foram as consequências das teoria de Descartes nos dias atuais?
Nova Era
Nova Era
Mestre Jedi
Mestre Jedi

Mensagens : 529
Data de inscrição : 05/11/2017
Idade : 21
Localização : Rio de Janeiro

Ir para o topo Ir para baixo

Descartes Empty Re: Descartes

Mensagem por EricFerro Qui 03 maio 2018, 16:28

Uau, eis aí uma pergunta interessante, bem, eu não saberia te responder de forma completa, primeiro por falta de espaço, segundo por minhas próprias limitações...

Mas a principal é o nascimento da Metafísica.

Antes, com os gregos, não tinhámos conhecimento desta ciência, pois para os gregos e os medievais não havia uma distinção clara entre filosofia e ciência, o próprio pensamento filosófico de Aristóteles se mistura com a realidade natural de uma forma extremamente complexa...

Descartes é o inventor da metafísica, e com a metafísica ele inventa a filosofia moderna, e por filosofia moderna compreendemos toda uma tradição que se opõe à filosofia medieval e que até então era completamente desconhecida pelos medievais e antigos...

O ponto chave de sua filosofia é o seu método, conhecido como dúvida metódica, através dele Descartes propõe destruir o edifício do pensamento medieval e propor um novo edifício para o conhecimento. Mas para compreendê-lo devemos compreender a natureza do edifício medieval de conhecimento, ele estava centrado em certos princípios aristotélicos básicos:

1- Toda a realidade nos é dada através do uso dos sentidos (princípio básico e indemonstrável da filosofia aristotélica).

Este princípio 1 é como se fosse a base do prédio, e duvidar dele através de argumentos coerentes significaria destruir todo o edifício aristotélico de conhecimento.

Mas como Descartes consegue duvidar das sensações? Bem, através do argumento dos sonhos:

1- Quando estou a sonhar tenho as mesmas sensações enquanto estou acordado.

2- Logo as sensações estão presentes tanto nos sonhos como na realidade vista através de meus sentidos enquanto estou acordado.

3- Se as sensações estão presentes tanto enquanto estou acordado, bem como enquanto estou sonhando, então as sensações não são um critério de distinção entre o real e o irreal.

4- Logo, existe a possibilidade de eu estar sonhando enquanto estou acordado! Brilhante e simples foi Descartes com esse argumento!

Por exemplo, se eu tenho duas maçãs e quero saber qual está verde e qual está madura, então observo a cor delas para distinguir a madura da não-madura (verde), deste modo a cor é o critério de distinção entre as duas maçãs. Mas neste caso as sensações não funcionam para distinguir vigília de sonho, entende? Ou seja, ele conseguiu demonstrar que existe a possibilidade de toda a nossa realidade sensível ser uma profunda ilusão, de estarmos sonhando (Matrix, lembra?). Mas cuidado, não se confunda, ele não provou que a realidade é uma ilusão através deste argumento simples, ele apenas provou a possibilidade de duvidar, e duvidar é consevar duas possibilidades e não poder escolher entre uma delas!

Posteriormente, Descartes duvida até mesmo das verdades matemáticas, como por exemplo de que 2 + 2 = 4, através de um argumento mais complexo envolvendo a ideia de Deus...Mas deixemos isso para lá...Ele também duvidou do tempo e do espaço, e identifica o cogito (argumento dos sonhos = cogito) com o princípio da não-contradição, mas isso é mais complicado...

Então, se ele duvidou de quase tudo o que ele conseguiu duvidar, do que não podemos duvidar? Segundo Descartes não podemos duvidar que pensamos, porque enquanto duvidamos pensamos e, logo, não podemos duvidar que existimos, porque enquanto pensamos existimos...Daí sua frase famosa: "penso, logo existo"...

Com isso Descartes marcou todo o ocidente, e inventou uma nova filosofia, a metafísica, ou seja, a capacidade de investigar através do puro raciocínio lógico, sem fazer apelo às experiências sensoriais, a natureza do conceito de realidade. Em outras palavras, o que é a realidade? Segundo Descartes a única realidade é a do Eu, ou seja, eu posso duvidar de tudo, inclusive de você meu leitor, só restando ter certeza de que eu pelo menos existo enquanto estou pensando...Neste caso enquanto estou dormindo não existo? Bem, segundo Descartes não é possível responder nem se dormimos, mas só é possível ter certeza de que existimos enquanto estamos acordados! (SUAHSUahSUHSU, sim, o cara viaja muitooo...)

Isso nos leva a outra conclusão, o argumento de Descartes é performativo, ou seja, só funciona enquanto executado. Em outras palavras, enquanto pensamos no seu argumento seu argumento funciona. Em outras palavras, só temos certeza de nossa existência enquanto pensamos sobre ela! Nas palavras de Descartes: "Penso, logo existo, todas as vezes que pronuncio esta sentença em meu espírito".

Certo, essa foi a primeira consequência do pensamento de Descartes, ou seja, a metafísica enquanto área do conhecimento dedicada à investigação do conceito de realidade.

A segunda consequência foi demonstrar a possibilidade da consciência enquanto algo totalmente imaterial, ou seja, não é possível se dizer que a consciência é material ou não, pois a matéria está duvidada na medida em que as sensações foram colocadas em dúvida....Em outras palavras, ele sugere (apesar de como eu te ensinei isso não poder ser derivado de seu pensamento na íntegra) uma separação entre alma e corpo, matéria e espírito...

Daí, quando vc ouvir que uma certa descoberta científica ou certa posição teórica ser cartesiana, ter esse sentido, da separação entre alma e corpo, matéria e espírito, teoria e prática, o abstrato do concreto, justamente porque ele mostrou ser possível duvidar das sensações!

EricFerro
Recebeu o sabre de luz
Recebeu o sabre de luz

Mensagens : 152
Data de inscrição : 09/09/2017
Idade : 28
Localização : Goiânia

Ir para o topo Ir para baixo

Ir para o topo

- Tópicos semelhantes

 
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos