"Ai flores do verde pino"
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"Ai flores do verde pino"
-Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo!
Ai Deus, e u é?
Ai, flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado!
Ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pos comigo!
Ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado
aquel que mentiu do que mi ha jurado!
Ai Deus, e u é?
-Vós me preguntades polo voss'amigo,
e eu ben vos digo que é san'e vivo.
Ai Deus, e u é?
Vós me preguntades polo voss'amado,
e eu ben vos digo que é viv'e sano.
Ai Deus, e u é?
E eu ben vos digo que é san'e vivo
e seerá vosc'ant'o prazo saído.
Ai Deus, e u é?
E eu ben vos digo que é viv'e sano
e seerá vosc'ant'o prazo passado.
Ai Deus, e u é?
O poema é composto por duas partes, até aí tudo bem. Contudo, meu livro afirma que na primeira parte o refrão exerce uma função, e na segunda parte (a parte em que as flores do verde pino passam a responder o trovador) passa a exercer outra. Por que isso? Não vejo diferença entre a função dele nas duas partes da cantiga. :scratch:
se sabedes novas do meu amigo!
Ai Deus, e u é?
Ai, flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado!
Ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pos comigo!
Ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado
aquel que mentiu do que mi ha jurado!
Ai Deus, e u é?
-Vós me preguntades polo voss'amigo,
e eu ben vos digo que é san'e vivo.
Ai Deus, e u é?
Vós me preguntades polo voss'amado,
e eu ben vos digo que é viv'e sano.
Ai Deus, e u é?
E eu ben vos digo que é san'e vivo
e seerá vosc'ant'o prazo saído.
Ai Deus, e u é?
E eu ben vos digo que é viv'e sano
e seerá vosc'ant'o prazo passado.
Ai Deus, e u é?
O poema é composto por duas partes, até aí tudo bem. Contudo, meu livro afirma que na primeira parte o refrão exerce uma função, e na segunda parte (a parte em que as flores do verde pino passam a responder o trovador) passa a exercer outra. Por que isso? Não vejo diferença entre a função dele nas duas partes da cantiga. :scratch:
Re: "Ai flores do verde pino"
Não seria função de emissor vs. função de receptor?
Ashitaka- Monitor
- Mensagens : 4363
Data de inscrição : 12/03/2013
Localização : São Paulo
Re: "Ai flores do verde pino"
Ashitaka escreveu:Não seria função de emissor vs. função de receptor?
A primeira parte representa a emissão da pergunta para as flores e a segunda parte a recepção da pergunta pelas flores?
Re: "Ai flores do verde pino"
Vou falar o que pensei sem me importar com isso de eu-lírico e tal. Na primeira, a mulher que fala é emissora e fala para as flores (receptor). Depois, a mulher passa a ser receptora e, as flores, emissor.
Ashitaka- Monitor
- Mensagens : 4363
Data de inscrição : 12/03/2013
Localização : São Paulo
Re: "Ai flores do verde pino"
Ashitaka escreveu:Vou falar o que pensei sem me importar com isso de eu-lírico e tal. Na primeira, a mulher que fala é emissora e fala para as flores (receptor). Depois, a mulher passa a ser receptora e, as flores, emissor.
Faz sentido. Mas por que as flores falariam "Ai deus, e u é?" para a mulher? Ela quem deveria estar preocupada com seu amigo, e não as flores. :scratch:
Re: "Ai flores do verde pino"
Português já não tem muita lógica e você vai procurar justo em "poesia"? Não tem sentido nem a mulher estar conversando com as flores. Lembre-se também que havia muita preocupação com a estrutura; essa repetição no final é bem característica das época, logo, é bem provável que esteja aí para cumprir papel. Lembre também que era tudo convencionado pela nobreza, era uma receita de bolo a ser seguida para criar uma cantiga. Pra mim faz sentido...
Ashitaka- Monitor
- Mensagens : 4363
Data de inscrição : 12/03/2013
Localização : São Paulo
Re: "Ai flores do verde pino"
Ashitaka escreveu:Português já não tem muita lógica e você vai procurar justo em "poesia"? Não tem sentido nem a mulher estar conversando com as flores. Lembre-se também que havia muita preocupação com a estrutura; essa repetição no final é bem característica das época, logo, é bem provável que esteja aí para cumprir papel. Lembre também que era tudo convencionado pela nobreza, era uma receita de bolo a ser seguida para criar uma cantiga. Pra mim faz sentido...
Faz sentido mesmo.
Ou melhor, não faz sentido, né.
Valeu, cara. Agora entendi. Não deve-se levar as coisas tão ao pé da letra.
Re: "Ai flores do verde pino"
kkkkkkkkAshitaka escreveu:Português já não tem muita lógica e você vai procurar justo em "poesia"? Não tem sentido nem a mulher estar conversando com as flores.
Vamos lá!.
Meu professor de Literatura costuma dizer que é isso o que a linguagem tem de melhor : a confusão entre as palavras,que saem ou não forçadamente de um mundo metafísico, volátil e literário(assim como afirma o Drummond lá na 2* geração do Modernismo brasileiro).
1)Christian, irei levar as coisas um pouco ''ao pé da letra'', blz?
1.1)As flores não estão preocupadas com a emissora (1* parte).
1.2)É bem verdade o que o Ashitaka disse : na primeira parte a ''mulher que fala é emissora e fala para as flores (receptor). Depois, a mulher passa a ser receptora e, as flores, emissor.'' .
1.3)Agora no que tange ao termo ''receita de bolo'', eu achei que essa expressão foi meio que mal especificada. O sentimentalismo feudal, embora nutrido de refrões, nem sempre instituía a formação de uma escrita padronizada (lembre-se de que a confissão amorosa é feita geralmente a um confidente, algo que abre espaço para um monólogo). Assim, não se pode afirmar que havia um padrão imutável(como uma receita de bolo), mas conceitos compartilhados em comum. É claro,que em alguns casos seguia-se uma norma (por exemplo, toda cantiga de amigo tem voz feminina). Posso afirmar,de certeza, que a verdadeira receita de bolo estava presente no Parnasianismo: '' a arte pela arte'', a escrita perfeita era trabalhada, trabalho esse como o de um ourives. O Manuel Bandeira, por exemplo critica essa perfeição formal parnasiana. Veja por exemplo, que no Parnasianismo não houve diferenciação temática na poesia, seguia-se a mesma retratação : caracterização de objetos, temas religiosos, metalinguagem.
1.4) O refrão ''Ai deus, e u é'', não está ali somente para cumprir papel. É notável, que além de compor o refrão e dar um tom de musicalidade, esse termo faz um contato direto com o que era proposto pelo Trovadorismo: o teocentrismo. Desse modo, quando a voz feminina fala ''deus,'' ela pode por exemplo, buscar contato com o mundo da teocêntrico como fuga de uma realidade sofrida, onde seu amor não chega(amigo, tipicamente em galego português).
Espero ter ajudado .*Nina*
Nina Luizet- matadora
- Mensagens : 1215
Data de inscrição : 21/06/2014
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