"Charlie Hebdo" e Liberdade de Expressão

No dia 7 de janeiro deste ano, terroristas islâmicos mataram a tiros de fuzil 12 pessoas e feriram 11 na Redação do jornal satírico "Charlie Hebdo", em Paris, a pretexto de vingar o profeta Maomé, alvo frequente das charges da publicação. Apesar das muitas manifestações de repúdio ao ato terrorista, o atentado também acabou provocando uma polêmica sobre a liberdade de expressão. Para alguns, ela deve ser geral e irrestrita, pois, se houver limites, não existirá liberdade de fato. Outros, consideram que há temas como a religião, que devem ser preservados, pois o direito de se expressar livremente não inclui a possibilidade de ofender. Há ainda quem defenda que a liberdade tem de coexistir com a responsabilidade e se submeter a uma ética. Como você se coloca diante desse debate? Exponha seu ponto de vista e o defenda com argumentos numa dissertação que discuta a liberdade de expressão, com ou sem limites.
Elabore uma redação com base nas ideias a seguir:

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  Capas do jornal satírico "Charlie Hebdo": humor provocativo, que entrou na mira de grupos terroristas
  

"Não concordo com nenhuma palavra do que dizes, mas defenderei até morrer o teu direito de dizê-lo."
[Frase atribuída a Voltaire, filósofo iluminista francês]

Expressão e democracia

A liberdade de expressão, sobretudo sobre política e questões públicas é o suporte vital de qualquer democracia. Os governos democráticos não controlam o conteúdo da maior parte dos discursos escritos ou verbais. Assim, geralmente as democracias têm muitas vozes exprimindo idéias e opiniões diferentes e até contrárias.
[site da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil]

O papa se pronuncia

Um dia depois da publicação da nova edição do jornal satírico francês "Charlie Hebdo", o papa Francisco afirmou que a liberdade de expressão tem limite e não se pode "provocar" nem "insultar" a fé das pessoas. (...) "Temos a obrigação de falar abertamente [sobre religião], temos esta liberdade. Mas sem ofender. Não se pode provocar, não se pode insultar a fé dos outros, não se pode tirar sarro dela", disse.
[Folha de S. Paulo]

Liberdade de insultar

O primeiro-ministro islamita-conservador turco, Ahmet Davutoglu, denunciou nesta quinta-feira (15/01/15) a publicação de uma nova charge do profeta Maomé na capa da revista satírica “Charlie Hebdo”, ao considerar que a liberdade de expressão não é "a liberdade de insultar"."A publicação da charge é uma grande provocação (...) liberdade de imprensa não significa liberdade de insultar", declarou Davutoglu à imprensa em Ancara antes de viajar a Bruxelas. "Não podemos aceitar os insultos ao profeta Maomé”, insistiu.
[Correio Braziliense]

Liberdade com responsabilidade

Podemos pôr em risco a segurança e a vida de outras pessoas em nome da liberdade de expressão e do livre pensar? A liberdade de opinião e o direito de expressá-la são uma conquista social, não apenas um direito individual para servir aos interesses e ao narcisismo de pessoas ou de grupos. Portanto o livre exercício do direito de opinar, criticar, caricaturar e denunciar exige reflexão, responsabilidade e ética. (...) Não podemos transformar a liberdade de expressão em um dogma, pois os dogmas são antidemocráticos e geram autoritarismo e posições extremistas. 
[Luiz Carlos Barreto, Folha de S. Paulo]

Sem mas...

O problema da liberdade da expressão é o "mas...", assim, com reticências. "Sou a favor da liberdade de expressão, mas..." E cada um tem o seu mas e as suas reticências. Se os mas e as reticências de todo mundo forem levados em conta, a liberdade de expressão simplesmente deixará de existir.
[Carlos Lana, colaborador da Página 3 Pedagogia & Comunicação]





REDAÇÃO





            O episódio referente ao jornal francês “Charlie Hebdo” em que cartunistas e funcionários foram massacrados por terroristas muçulmanos em represália a charges consideradas desrespeitosas às crenças islâmicas fez ascender novamente o debate acerca da amplitude e adequação da Liberdade de Expressão na mídia. A necessidade de impor restrições às palavras ou às outras formas de expressão revela-se imediata em razão dos outros valores aos quais a sociedade adere.
            Segundo o filosofo e linguista búlgaro Tzvetan Todorov, em seu livro “Os Inimigos Íntimos da Democracia”, a liberdade de expressão exige uma tolerância integral e um relativismo generalizado de todos os valores. Diante de uma sociedade multiculturalista, a existência de princípios antagônicos invalida o pleno exercício deste direito, que só é válido sob uma base compartilhada de costumes, conforme atesta a pluralidade ideológica em relação ao episódio: para os jornalistas, houve um exercício de direito; para os islâmicos, um abuso.
            A partir desse pressuposto, admite-se que, se a relativização dos valores implica na relativização da própria liberdade, distinguir quais das duas condutas (dos cartunistas ou dos terroristas) é a correta torna-se uma contradição. Se, por um lado, há a justificativa de que o humor deve ser dotado de uma maior flexibilidade, sob o pretexto de que o conteúdo ali veiculado tem intuito meramente cômico, há, por outro, o sentimento de que tal liberdade de expressão funciona como uma válvula de escape para o abuso de direito no que tange a ofender pessoas e grupos impunemente.

            Qualquer liberdade absoluta implica obviamente na limitação da liberdade alheia; a única condição que viabiliza seu caráter de direito coletivo é a existência de mecanismos para sua própria restrição e controle. Embora seja paradoxal, essas restrições devem ser impostas em razão dos outros valores aos quais a sociedade adere e do contexto ao qual se encontra o objeto de estudo jurídico. Do contrário, a liberdade sem limites, seja de expressão ou qualquer outra, corresponderá à negação da própria liberdade e, consequentemente, dos ideias democráticos.




Se não for pedir muito, peço que avaliem conforme as competências abaixo, atribuindo notas de 0 a 200 pontos em cada uma delas:
1) Domínio da norma padrão da língua portuguesa;
2) Compreensão da proposta de redação;
3) Seleção e organização das informações;
4) Demonstração de conhecimento da língua necessária para argumentação do texto
5) Elaboração de uma proposta de solução para os problemas abordados, respeitando os valores e considerando as diversidades socioculturais.

1) Domínio da norma padrão da língua portuguesa;  180
2) Compreensão da proposta de redação;200
3) Seleção e organização das informações;200
4) Demonstração de conhecimento da língua necessária para argumentação do texto 160
5) Elaboração de uma proposta de solução para os problemas abordados, respeitando os valores e considerando as diversidades socioculturais. 160

Grato pela avaliação.

Acho que eu não sou a pessoa mais indicada pra corrigir redações (basta ler alguma das minhas para perceber que ainda estou desenvolvendo minha escrita). Mas acho que um comentário não vai fazer mal, então filtre aquilo que você achar necessário...


1) Faltou alusão histórica. O acontecimento no "Charlie Hebdo" é atual, então não é alusão. É exemplificação.

Você poderia traçar com o que aconteceu em 2006, com a reprodução da caricatura de Maomé (com turbante em forma de bomba) originalmente publicadas pelo jornal dinamarquês "Jyllands-Posten. Mostrando que não é de agora que isso vem ocorrendo e tal.

Eu tentaria encaixar a seguinte citação: “A liberdade consiste em poder fazer tudo aquilo que não prejudique outrem: assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão os que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. "Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.

De acordo com o princípio doutrinado na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão "A liberdade consiste em poder fazer tudo aquilo que não prejudique outrem", tecendo, portanto, a necessidade de se refrear a a liberdade individual em prol de uma coletiva. O episódio referente ao jornal francês “Charlie Hebdo” em que cartunistas e funcionários foram massacrados por terroristas muçulmanos em represália a charges consideradas desrespeitosas às crenças islâmicas fez ascender novamente o debate acerca da amplitude e adequação da Liberdade de Expressão na mídia. A necessidade de impor restrições às palavras ou às outras formas de expressão revela-se imediata em razão dos outros valores aos quais a sociedade adere.

O que você acha?



Não sei se é porque estou acostumada a fazer uma introdução a partir de um tópico frasal antes de expor o "assunto" em si, mas achei um pouco estranho o fato de você jogar o "fato ocorrido" logo de cara. Lembrando que a pessoa que está lendo não teve acesso a coletânea e tal...

Achei o 2º parágrafo mais introdutório do que o primeiro, retirando as ultimas linhas. Bom, é o que acho. Eu achei excelente o 2º parágrafo!

Sobre o terceiro parágrafo, me deu a impressão que você ficou "em cima do muro". O tema é realmente complicado de expor apenas um lado... mas eu tinha entendido que você iria defender um "maior policiamento e restrição às palavras da mídia e tal" deixando claro que sem ser através de censura.
Mas, como você usou da máxima de que "Qualquer liberdade absoluta implica obviamente na limitação da liberdade" ficou compreensível.

Porém eu, no 3º parágrafo iria tentar apresentar essa situação de um jeito diferente, não falando claramente que nenhum dos dois estão certos... eu deixaria isso nas entrelinhas com o intuito de não parecer contraditória.
(Acho que eu posso fazer isso né? :scratch: )

Meu argumento
As duas liberdades- individual e coletiva - devem coexistir em uma mesma esfera de direitos, de forma que ambas se reconheçam e se respeitem. Deste modo, tanto o fundamentalismo religioso como o ato criticista do jornal, revelam uma falha moral na equiparação das liberdades. -- Mais ou menos isso.


"Qualquer liberdade absoluta implica obviamente na limitação da liberdade alheia; a única condição que viabiliza seu caráter de direito coletivo é a existência de mecanismos para sua própria restrição e controle." Maravilha! Mas você deveria focar mais sobre como seriam esses mecanismos... leis que sejam menos permissivas a criticas morais(como religião)--- não se delineado em formas de censura; maior respeito entre indivíduos (de ambas as partes no caso, claro);


Caso eu tenha falado alguma idiotice, desconsidere!

Tenho certeza que o Fito irá corrigir sua redação (de uma forma muito melhor) hehe

Dezotti, gostei da sua redação, embora ela apresente alguma falhas (é a minha opinião,considere que sou apenas uma leitora ).A magcamile deu boas ideias. Get This , fizeste uma boa avaliação. 


*P.S : esperem pela correção do Fito. hahaha

Também estou esperando pela correção do Fito42. Acho que ele está cursando Engenharia Mecânica... Tomara que dê uma passada por aqui, KK.


Obrigado pelas sugestões magcamile. Serão muito úteis.


O "Charlie Hebdo"  é um caso complexo. É difícil escolher entre o fanatismo religioso e a iconoclastia. Propor solução para o problema então... quase tão complicado quanto propor uma solução para o racismo diante de várias medidas que já foram adotadas: criminalização do racismo, difusão da cultura negra nas escolas, cotas raciais, etc. Todo problema geopolítico ou ideológico só se resolve com as modificações dos polos de poder. 


Gosto desses temas e pretendo comprar algum livro que fala sobre essas questões. Já pesquisei o do Todorov, citado na redação, e um intitulado "Globalização, Democracia e Terrorismo", do Eric Hobsbawm. Ainda não decidi qual vou comprar e nem se vou realmente efetuar a compra. No entanto, a literatura é uma das poucas fontes confiáveis diante da unilateralidade e maniqueísmo da mídia.


Valeu gente! 

Ele ainda deve estar de férias, deve estar aproveitando hauaha Também estou aguardando a correção dele na minha redação...

Ah, só acho que você poderia ir lá na minha última redação me dar uma dicas também kk

Dezotti escreveu:
 Já pesquisei o do Todorov, citado na redação, e um intitulado "Globalização, Democracia e Terrorismo", do Eric Hobsbawm. Ainda não decidi qual vou comprar e nem se vou realmente efetuar a compra. 

Eric Hobsbawn? Muito bom. Admiro o seu pensamento histórico dialético ( disse dialético porque sua análise me remete à de Hegel). Se for comprar, não vai se arrepender.

Isso sempre acontece comigo haha:
Enquanto escrevo redações , fico pensando se coloco:
causa  - consequência
causa - indução
indução - consequência
filósofo x - filósofo y
sociólogo x - sociólogo y
...

E então, procuro não colocar excesso de informação no texto. Dezotti , acho que você fez a coisa certa : ponderou os seus argumentos.