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Sociologia - Marx e Weber

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Mensagem por Emily Stephanny Ter 16 Set 2014, 00:51

Na rua passa um operário. Como vai firme! Não tem blusa. No conto, no drama, no discurso político, a dor do operário está na blusa azul, de pano grosso, nas mãos grossas, nos pés enormes, nos desconfortos enormes. Esse é um homem comum, apenas mais escuro que os outros, e com uma significação estranha no corpo, que carrega desígnios e segredos. Para onde vai ele, pisando assim tão firme? Não sei. A fábrica ficou lá atrás. Adiante é só o campo, com algumas árvores, o grande anúncio de gasolina americana e os fios, os fios, os fios (...) Daqui a um minuto será noite e estaremos irremediavelmente separados pelas circunstâncias atmosféricas, eu em terra firme, ele no meio do mar. Único e precário agente de ligação entre nós, seu sorriso cada vez mais frio atravessa as grandes massas líquidas, choca-se contra as formações salinas, as fortalezas da costa, as medusas, atravessa tudo e vem beijar-me o rosto, trazer-me uma esperança de compreensão. Sim, quem sabe se um dia o compreenderei?
(Carlos Drummond de Andrade - Operário do Mar - trechos)


O poema em prosa de Drummond evidencia as condições da vida operária e a relação com a sociedade. No trecho "Esse é um homem comum, apenas mais escuro que os outros" evidencia-se qual teoria social?


Alternativa correta: O conceito de alienação de Marx e sua análise das relações de trabalho.
Alternativa que eu tinha marcado: Aos estudos de Max Weber sobre estratificação social e status.


Então, alguém pode me explicar o porquê desta frase se relacionar com o conceito de Marx e não com as teorias de Weber de estratificação social? E também qual o motivo de evidenciar a alienação de Marx, em que interpretação da frase eu posso ver o conceito de alienação?
Lendo o trecho completo, com as partes não dadas no pré-enunciado, eu ainda reforço a ideia de que a frase sintetizada na questão retoma o conceito de Weber e não de Marx.


Na rua passa um operário. Como vai firme! Não tem blusa. No conto, no drama, no discurso político, a dor do operário está na blusa azul, de pano grosso, nas mãos grossas, nos pés enormes, nos desconfortos enormes. Esse é um homem comum, apenas mais escuro que os outros, e com uma significação estranha no corpo, que carrega desígnios e segredos. Para onde vai ele, pisando assim tão firme? Não sei. A fábrica ficou lá atrás. Adiante é só o campo, com algumas árvores, o grande anúncio de gasolina americana e os fios, os fios, os fios. O operário não lhe sobra tempo de perceber que eles levam e trazem mensagens, que contam da Rússia, do Araguaia, dos Estados Unidos. Não ouve, na Câmara dos Deputados, o líder oposicionista vociferando. Caminha no campo e apenas repara que ali corre água, que mais adiante faz calor. Para onde vai o operário? Teria vergonha de chamá-lo meu irmão. Ele sabe que não é, nunca foi meu irmão, que não nos entenderemos nunca. E me despreza... Ou talvez seja eu próprio que me despreze a seus olhos. Tenho vergonha e vontade de encará-lo: uma fascinação quase me obriga a pular a janela, a cair em frente dele, sustar-lhe a marcha, pelo menos implorar lhe que suste a marcha. Agora está caminhando no mar. Eu pensava que isso fosse privilégio de alguns santos e de navios. Mas não há nenhuma santidade no operário, e não vejo rodas nem hélices no seu corpo, aparentemente banal. Sinto que o mar se acovardou e deixou-o passar. Onde estão nossos exércitos que não impediram o milagre? Mas agora vejo que o operário está cansado e que se molhou, não muito, mas se molhou, e peixes escorrem de suas mãos. Vejo-o que se volta e me dirige um sorriso úmido. A palidez e confusão do seu rosto são a própria tarde que se decompõe. Daqui a um minuto será noite e estaremos irremediavelmente separados pelas circunstâncias atmosféricas, eu em terra firme, ele no meio do mar. Único e precário agente de ligação entre nós, seu sorriso cada vez mais frio atravessa as grandes massas líquidas, choca-se contra as formações salinas, as fortalezas da costa, as medusas, atravessa tudo e vem beijar-me o rosto, trazer-me uma esperança de compreensão. Sim, quem sabe se um dia o compreenderei?
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Mensagem por Nina Luizet Ter 16 Set 2014, 17:46

Olá Emily !

Retomemos o conceito de alienação para Karl Marx : É a situação resultante dos fatores materiais dominantes na sociedade. Desta forma,o homem ( no caso do texto, o operário ) torna-se estranho a si mesmo, não se reconhecendo mais. Todo este pressuposto é evidenciado na seguinte frase : ''  e com uma significação estranha no corpo, que carrega desígnios e segredos. Para onde vai ele, pisando assim tão firme? Não sei. A fábrica ficou lá atrás.'' . Inclusive, existe uma metalinguagem no texto pois, Drummond não reconhece o operário e eles não se entendem.
 E por que não faz referência a Max Weber?......


Se ocorresse uma referência a Max Weber, a crítica à disparidade social deveria estar melhor explícita. A ordem social, a economia e a desigualdade não possuem muita ênfase. Diferentemente da alienação, que Carlos Drummond faz uma grande referência.


Última edição por Nina Luizet em Qua 17 Set 2014, 05:52, editado 1 vez(es)
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Mensagem por Emily Stephanny Ter 16 Set 2014, 21:09

Oi Nina,
Mas isso não determina que ele é alienado, não é? Eu conversei com meu professor hoje de manhã, mas foi muito rápido, só deu tempo dele falar que não era acerca das teorias de Weber pelos mesmos motivos que você disse, não houve citação direta sobre estratificação e muito menos ênfase em discrepância social. Só que eu não vejo que esse operário em questão, o qual Drummond descreve, como um alienado. 


Esse é um homem comum, apenas mais escuro que os outros, e com uma significação estranha no corpo, que carrega desígnios e segredos.
Eu não acho que esse trecho quer dizer que o operário está se estranhando ou não se reconhecendo. Aliás, essa é a parte que me faz acreditar que ele é diferente dos outros, o que inclusive retira essa característica dele, a alienação. Na verdade, ouso dizer que Drummond talvez teve uma inclinação em representar esse operário como uma singela idealização dum socialista. Desígnios e segredos! 

Achei uma análise duma estudante de literatura bem congruente ao que eu tinha pensado:
"Operário no mar" é um texto discursivo em prosa, sem aparato versificatório e de um grande sentido poético. No fundo aparece como uma grande parábola poética que mede a distância entre o operário e o burguês, e declara uma nítida separação de classes, como se percebe na passagem: “Ele sabe que não é meu irmão”. Um poema em prosa carregado de símbolos: “Esse é um homem comum, apenas mais escuro que os outros, e com uma significação estranha no corpo, que carrega desígnios e segredos no mar”.
Pela leitura fica clara a distância entre o eu poético burguês e o operário. Mas há uma mudança, uma ligeira metamorfose: em seu caminhar frontal e “firme”, a figura do operário se impõe. Caminha, é insistente em suas lutas e transforma muita coisa, quase faz milagres. É uma alusão à luta trabalhista, a qual, com o tempo, conseguirá suas vitórias, entre elas, o derretimento de gelos, a derrubada de preconceitos, e o milagre da aproximação, a humanização.

Pode ser que tenha umas pinceladas das ideias de Weber mesmo o conceito de Marx predominando realmente, mas eu ainda acho que não seja alienação, porém vai acabar sendo, e, nesse caso eu sustento a tese de que o operário não é um alienado que não se reconhece mais, todavia, ele é um operário um que se livrou das amarras dessa alienação, diria Marx: psicologia de massa, e talvez até mesmo defenderia a tese de que o operário é um representante dos ideais socialistas. Não é característica dum alienado ter segredos, afinal.
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Mensagem por Nina Luizet Qua 17 Set 2014, 13:55

    :aabb: Bem, já que a alienação não é um argumento muito forte, vamos as outras características presentes no texto e na obra O Capital, de Karl Marx : o materialismo histórico e as forças produtivas.  Depreende-se do texto que existe uma análise implícita sobre o materialismo histórico, ou seja, Drummond refuta sobre as diferentes causas que provocam mudanças na sociedade '' O operário não lhe sobra tempo de perceber que eles levam e passam mensagens, que contam da Rússia, do Araguaia, , dos Estados Unidos. Não ouve da Câmara dos Deputados, o líder oposicionista vociferando....''


 *Emily , o texto a que referistes possui uma ótima análise todavia, atente que ele apresenta RESQUÍCIOS das ideologias de Weber. Repare : ''É uma alusão à luta trabalhista'' E quem lutava em prol de mudanças por meio de transformações nos modos de produção? ....Karl Marx....

  *Ademais, é importante ressaltar que Weber realiza uma crítica a Karl Marx no que tange à tese da BIPOLARIZAÇÃO SOCIAL, na qual a burguesia e o proletariado encontram-se em antagonismo. Deste modo existiria uma redução no compreendimento da estratificação social. Em suma, Drummond compartilha a mesma ideia de Marx, porque apesar do evidente antagonismo de classes sociais, a compreensão`à respeito da estratificação social não é reduzida mas sim, ampliada. Não obstante, perceba que para ocorrer influência de Weber no texto de Drummond, as questões sobre Estado e legitimidade deveriam estar muito melhor questionadas e exemplificadas. Algo que não ocorre de forma alguma no texto.











É uma questão de análise sociológica e interpretação textual... :jui:               

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Mensagem por Emily Stephanny Sáb 20 Set 2014, 00:42

E também não é colocada em questão o signo de status, concernente a Weber. Tens razão, Nina, concordo contigo, mas a analogia à alienação apresentando o operário como alienado propriamente dito, não me convence. Realmente os outros argumentos como materialismo dialético e a luta de classes são extremamente fortes nesse texto... a frase destacada talvez queira apresentar o sujeito como um ser mais escuro no que se refere ao apagar dele, desconhecer, como tu havias dito, fruto da alienação, todavia ao apresentar o excerto mais escuro que "os outros" levanta muitas dúvidas, pois para Marx os operários eram alienados a partir do momento em que se sujeitavam ao sistema -em tese- então a maioria seria alienada e "os outros" fica ligeiramente descontextualizado. Abre ainda espaço para outras interpretações como sugerir que o operário seja um "desalienado" incomum com desígnios e segredos em prol da luta socialista (como a análise da estudante de literatura) entende o que quero dizer? É muito ampla a análise de Drummond! Ainda assim conclui que o equívoco foi meu, claramente trata-se de Marx e de suas ideologias, obrigada  Very Happy
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